Analistas advertem para as boas notícias

São Paulo – O governo Lula tem comemorado uma série de recordes nas contas externas. Das captações de empresas e bancos brasileiros nos mercados internacionais à escalada dos superávits da balança comercial, as boas notícias não cessam nessa área. Mas os analistas advertem: embora tenha conseguido importantes avanços no ajuste das contas externas nos últimos anos, o País está longe de ter se livrado das vulnerabilidades que fazem da sua economia presa fácil das crises internacionais de liquidez.

“O ajuste externo foi a grande mudança ocorrida na economia nos últimos anos. E não foi mérito nem do governo Fernando Henrique, nem do governo Lula, mas do funcionamento do regime de flutuação cambial em resposta às situações de crise”, diz o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, professor da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo.

O presidente da Sociedade Brasileira de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Antônio Corrêa de Lacerda, lembra que o déficit em conta corrente do Brasil (que contabiliza os saldos comerciais menos os recursos que saem do País para viagens, transporte e pagamentos de juros e dividendos) saltou de US$ 1,8 bilhão em 1994 para US$ 33,45 bilhões em 98.

A crise de liquidez internacional no fim daquele ano levou à adoção do regime de câmbio flutuante pelo país em 1999, o ponto de partida do processo de ajuste externo em curso. Puxado pela forte desvalorização cambial, o déficit em conta corrente chegou a US$ 7,8 bilhões em 2002, e não deve passar de US$ 3,5 bilhões este ano.

“Não há dúvida de que o déficit em conta corrente caiu significativamente, só que a um custo altíssimo para o país”, diz Lacerda, referindo-se aos efeitos inflacionários da excessiva depreciação cambial no ano passado.

O superávit da balança comercial nos primeiros cinco meses do ano bateu em US$ 8 bilhões, 61% do superávit acumulado em 2002. Em 12 meses, até maio, a balança está positiva em US$ 19,3 bilhões. Dois recordes históricos.

Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e hoje sócio da Tendência Consultoria, observa que, por trás dos recentes resultados positivos nos diferentes indicadores externos, estão uma maior estabilidade institucional e um conjunto de políticas fiscal e monetária seguidas pelo País nos últimos anos:

“Esses são fatores essenciais tanto para se gerar superávits comerciais como para assegurar crédito e investimentos ao país.”

Se não faltam vitórias a comemorar, segundo especialistas o governo Lula tem uma longa lista de desafios para tirar definitivamente o Brasil do time das economias de alto risco. O fato de ter incluído a redução da vulnerabilidade externa entre as prioridades de seu governo é visto como um primeiro e importante passo. Mas, continuam eles, resta ao governo sair do discurso para a prática, com ações efetivas que permitam a ampliação das exportações sem interromper o processo de substituição das importações.

O baixo nível das reservas internacionais em relação aos compromissos do país no exterior é outro ponto a ser tratado. Graças ao acordo com o FMI, as reservas totais hoje estão em US$ 41,5 bilhões. Descontando-se o dinheiro do Fundo, o saldo efetivo das reservas cai para US$ 18 bilhões. Segundo o presidente da Sobeet, as necessidades de crédito externo do país este ano serão de pouco mais de US$ 30 bilhões, dos quais US$ 20 bilhões serão cobertos com dinheiro do FMI:

“Os países que têm alcançado autonomia na área externa dispõem, além de uma balança comercial sólida, de níveis de reservas bem maiores que as brasileiras.”

Países com economias emergentes hoje mais sólidas que a brasileira, de fato, têm reservas bem mais altas. O México, por exemplo, dispõe de US$ 54 bilhões; a Rússia, de US$ 56 bilhões; e a China, US$ 313 bilhões. Ou seja, a menos que renove o atual acordo com o FMI, que vence em dezembro, o governo precisa adotar medidas que consolidem seu ajuste.

Para Batista Júnior, o BC deve adotar gradualmente, e não emergencialmente, medidas de controle de capitais, especialmente sobre o curto prazo:

“Não se pode permitir que a apreciação do câmbio seja fruto de movimentos de capitais de curto prazo. Por que permitir uma apreciação duvidosa do real e comprometer os resultados dos últimos meses?”

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