Genebra (AE) – O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, desembarcou em Genebra ciente de que nem tudo será ?amarrado? nas negociações sobre os capítulos agrícola e industrial da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), que começaram ontem e devem se estender até domingo na Suíça. Horas depois, ao final de um jantar com a representante dos Estados Unidos para o Comércio, Susan Schwab, o ministro resumiu, em tom queixoso, que o preço exigido por Washington para uma redução nos subsídios agrícolas é mais alto do que o G-20, o grupo de economias em desenvolvimento liderado pelo Brasil, e a União Européia pretendem pagar.
?O clima, aqui, não é de pessimismo. Mas não acho que vamos sair com tudo amarradinho. Esperar isso seria excesso de otimismo. Há muita coisa para ser acertada aqui?, afirmou. ?Todos dependem de todos nesta negociação. Eu confio na sinceridade dos Estados Unidos sobre sua intenção de reformar sua política de subsídios. Mas o preço talvez não seja o que o mercado está disposto a pagar?, completou Amorim.
Considerado por autoridades da OMC como ?homem-chave?, Amorim trouxe um tom mais cético, que contrastou com as expectativas de Pascal Lamy, o diretor-geral da OMC, com quem conversou pelo telefone logo depois do desembarque. Numa indicação de que controla sua impaciência com os avanços milimétricos, o chanceler resumiu que está na ?posição de esperar para ver?.
Para Amorim, as negociações que começaram ontem dificilmente terminarão com ?resultados numéricos?. Ou seja, não há ilusões de que serão preenchidos os 750 pontos em aberto apenas no rascunho do pré-acordo sobre agricultura e acertadas as divergências sobre a área industrial. Mas as conversas serão importantes, completou ele, ?para determinar se vamos ter margem para avançar em um período razoável e compatível com os prazos definidos?.
A conclusão dos pré-acordos sobre agricultura e indústria até segunda-feira e a perspectiva de um acerto final sobre a rodada até o final do ano são objetivos desejáveis, na visão de Amorim. Mas, apesar dos fortes apelos de Lamy para que não haja adiamentos, o chanceler brasileiro enfatizou que, entre o cumprimento do prazo e o resultado ambicioso, optará pelo segundo.