Sergio Rial, presidente da Americanas, um dos maiores grupos varejistas do país, anunciou nesta quarta-feira (11) seu desligamento da empresa. Em fato relevante, assinado por ele e pelo diretor de relações com investidores da Americanas, André Covre, ambos relatam ter encontrado “inconsistências” no montante de R$ 20 bilhões no balanço da companhia.

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O nome de Rial, ex-presidente do Santander Brasil, foi anunciado em agosto do ano passado e o executivo assumiu agora, no início de 2023. Ele substituiu Miguel Gutierrez, que estava na Americanas há quase 30 anos e há 20 no comando do grupo.

“A Americanas S.A. vem comunicar aos seus acionistas e ao mercado em geral que foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis redutores da conta fornecedores realizados em exercícios anteriores, incluindo o exercício de 2022”, informou em fato relevante.

Como consequência, Sérgio Rial e André Covre, que assumiram no dia 2, decidiram deixar a empresa. Rial, no entanto, continuará como assessor dos acionistas de referência da Americanas, o trio de bilionários à frente do fundo de investimentos 3G Capital– Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.

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O conselho de administração nomeou como presidente e diretor de relações com investidores interino João Guerra, da área de tecnologia e recursos humanos. O conselho vai criar um comitê independente para apurar as circunstâncias que ocasionaram as referidas “inconsistências contábeis”.

O grupo afirmou que, apesar de não conseguir determinar todos os impactos no balanço da empresa “neste momento”, acredita “o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial”. Ou seja, segundo a companhia, trata-se de um efeito contábil, não financeiro (não deve sair dinheiro do caixa para cobrir o rombo).

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O atual valor de mercado da Americanas é de cerca de R$ 11 bilhões. A companhia prevê divulgação de resultados de 2022 em 29 de março.

Na opinião de Eugênio Foganholo, sócio da consultoria de varejo Mixxer, Rial é um dos melhores e mais preparados executivos do mercado brasileiro e havia uma grande expectativa em torno da sua chegada para comandar uma gigante do varejo, setor que ele não dominava. “Mas ele traz a questão da governança, que é muito forte no mercado financeiro”, diz Foganholo. “É inacreditável um rombo de R$ 20 bilhões. É uma fratura exposta nas companhias abertas, não dá para admitir.”

“Numa análise preliminar, a área contábil da companhia estima que os valores das inconsistências sejam da dimensão de R$ 20 bilhões na data-base de 30/09/2022”, diz o comunicado. “A área contábil da companhia identificou a existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem acima, nas quais a companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta fornecedores nas demonstrações financeiras de 30/09/2022.”

Segundo fontes do mercado ouvidas pela reportagem, a área de fornecedores é sempre a mais problemática nas empresas varejistas. É onde, segundo estas fontes, acontecem as negociações à parte, atos ilícitos como favorecimento a alguns fornecedores, em troca de vantagens para alguns executivos.

“As estimativas acima estão sujeitas a confirmações e ajustes decorrentes da conclusão de trabalhos de apuração e dos trabalhos a serem realizados pelos auditores independentes, após o que será possível determinar adequadamente todos os impactos que tais inconsistências terão nas demonstrações financeiras da companhia”, diz o fato relevante.

Em 2021, a empresa havia simplificado a sua estrutura societária e passou a se chamar Americanas S.A., reunindo os ativos de Lojas Americanas e B2W, dona da Americanas.com. Assim, começou a contar com uma única ação listada no Novo Mercado da B3, o de mais alta governança.

“A notícia gera uma falta de confiança nas companhias abertas de forma geral”, diz Foganholo. “É muito ruim.”

Colaborou Renato Carvalho, de São Paulo