O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, avaliou nesta quinta-feira, 25, que o ritmo menor de queda no crédito, com certa estabilização e até recuperação em algumas modalidades, ocorre em um cenário de estabilidade “absoluta” na inadimplência do crédito livre, que vem desde o final do ano passado. “Inadimplência estabilizada em um cenário de dinamismo reduzido da economia após dois anos de recessão significa que a inadimplência – sobretudo a das famílias – segue bem comportada”, completou.
Maciel analisou as quedas das taxas de juros do Sistema Financeiro Nacional em abril, com destaque para o recuo de 1,9 ponto porcentual no juros do crédito total e de 3,4 pontos no crédito livre. Essas foram as maiores quedas mensais da série histórica da autoridade monetária.
“Metade da queda da taxa observada no mês pode ser atribuída à redução dos juros no rotativo do cartão de crédito. A outra metade do movimento pode ser atribuída ao ciclo de política monetária, com as quedas sucessivas da Selic. A tendência era que isso se intensificasse”, analisou.
Maciel lembrou que a restrição da permanência do crédito no rotativo por mais de 30 dias começou a vigorar em 3 de abril e tinha o objetivo de reduzir o risco dessas operações. “Ao migrar esse crédito para outra modalidade após 30 dias, há uma redução do custo, e é isso que estamos observando”, completou.
Com isso, reforçou, a queda nos juros no rotativo do cartão de crédito para clientes regulares caiu de 431,1% em março para 296,1% em abril, uma redução de 135 pontos porcentuais. Já o cliente não regular no rotativo – quem atrasa a fatura – continuou numa taxa de juros bem maior, de 524,1% em abril. De acordo com Maciel, o saldo de operações no perfil regular é de R$ 16,194 bilhões, enquanto o volume no perfil não regular é de R$ 22,562 bilhões.
“A taxa do rotativo regular recuou expressivamente no mês e se trata de um ajuste ainda em curso. Deve cair mais e na primeira semana de maio essa taxa já estava em 267,7%. Os efeitos plenos da medida serão observados só no fim de maio ou em junho, quando chegaremos a um novo patamar mais estável”, projetou Maciel. “Em maio, teremos taxas mais baixas no cartão rotativo”, acrescentou.
Como a medida só entrou em vigor no mês passado, o volume de operações do rotativo migradas para o parcelado foi pequeno, de apenas R$ 65 milhões. “Esse volume ainda vai subir”, disse Maciel. A taxa média de juros das operações migradas em abril foi de 151,2%. No parcelado normal, os juros médios foram de 161,6%. “A expectativa é de que não haja impactos relevantes de alta no parcelado do cartão, cujas taxas recuaram para perto do que vimos em 2015. Esperamos que as taxas do parcelado e do migrado fiquem próximas, e ambas bem abaixo das taxas do rotativo”, concluiu.
Maciel disse ainda que a Agenda BC+ para a redução do custo de crédito é ampla e inclui outras medidas com esse propósito. Segundo ele, ações para o cheque especial e outras modalidades também estão sendo estudadas. “A questão do prazo para pagamento do cartão ao lojista está em avaliação”, completou.
Selic
Além da queda dos juros do rotativo do cartão de crédito em abril, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central avaliou que a queda dos juros gerais do Sistema Financeiro Nacional no mês passado também se deveu ao ciclo de cortes na taxa Selic.
“Da queda de 1,9 ponto porcentual nos juros médios do sistema, 0,9 pp decorre do rotativo do cartão e 1 pp de outros fatores, como o recuo na Selic”, afirmou.
Maciel lembrou que, em função da menor quantidade de dias úteis em abril – cinco a menos que março -, a TR no mês também foi menor, o que levou a uma queda nos juros do crédito direcionado. “Observamos taxas cadentes também no crédito direcionado”, enfatizou.
Estoque de crédito
Também por conta da menor quantidade de dias úteis no mês, Maciel minimizou a queda de 0,2% no estoque de crédito em abril na comparação com março. “Essa variação é benigna. Há uma perda de fôlego na queda do crédito em 12 meses. O ritmo de recuo diminui e há uma estabilização na margem, inclusive com sinais de retomada, por exemplo, em veículos e no crédito pessoal”, avaliou.
Essa recuperação, no entanto, ocorre apenas em modalidades do crédito a pessoas físicas. “O crédito às famílias já reage, mas o crédito às empresas ainda mostra sinais de fragilidade”, ponderou.