Alta do juro derruba produção industrial

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Linha de montagem de
celulares: acomodação.

Rio (AE) – A indústria brasileira começou o ano amparada na recuperação da massa salarial, que evitou uma desaceleração mais forte do setor. Liderada por um crescimento mais vigoroso dos bens de consumo semi e não duráveis (alimentos, bebidas, calçados e confecções), que dependem da renda, a produção cresceu 6% ante janeiro de 2004, mas caiu 0,5% ante dezembro. A expansão ante igual mês do ano anterior foi a 17.ª consecutiva nessa base de comparação, mas confirmou a perda de ritmo em relação a dezembro, quando houve aumento de 8,3% ante igual mês de 2003.

Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda ante mês anterior confirmou a acomodação do setor. Para Silvio Sales, chefe da coordenação da indústria, os dados de janeiro revelam ?um momento muito mais de acomodação do que de inflexão? da indústria. O argumento é que o resultado de janeiro não ocorre numa seqüência de taxas negativas (em dezembro houve aumento de 1,2% ante novembro). ?A repetição de taxas negativas poderia significar mudança de trajetória?, justificou Sales. Ele destacou ainda que os dados de média móvel trimestral – considerados os principais sinais de tendência – mostram que o trimestre encerrado em janeiro esteve 0,1% superior ao terminado em dezembro, ?o que mostra estabilidade?.

Ele destacou que a desaceleração do ritmo de crescimento do setor em 2005 já era esperada, já que os resultados ante mês anterior estão sendo calculados sobre uma base bem mais elevada do que a apresentada no ano passado. Para Sales, ?os números disponíveis da indústria levam a supor que a trajetória de crescimento se sinaliza com ritmo provavelmente menor do que em 2004?.

A situação é mais preocupante na visão dos analistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Para a instituição, ?a fonte de preocupações do setor industrial não diz respeito exclusivamente à evolução negativa da produção industrial de janeiro, mas, sim, a um processo de estagnação industrial que já dura cinco meses e que o resultado de janeiro vem confirmar?. Para o Iedi, as elevações na taxa básica de juros (Selic) iniciadas em setembro do ano passado ?estão na raiz do resultado adverso de janeiro?.

Juan Jensen, da Tendências Consultoria, recebeu os dados com mais otimismo. Ele considerou o resultado ?bom? porque os setores com melhor desempenho (semi e não duráveis) ainda têm capacidade ociosa para aumentar a produção sem gerar pressão inflacionária. ?Os (setores) que estão à plena capacidade estão mostrando queda de produção. O resultado é bom em termos de política monetária?, comentou.

De qualquer maneira, como efeito dos juros altos, a Tendências revisou para baixo o crescimento esperado para a produção da indústria neste ano, de 4,5% para 3,5%.

Para Sales, os semi e não duráveis ?ampliaram os sinais? de que terão mais importância para a trajetória da produção industrial em 2005 do que em 2004. Em janeiro, esse grupo apresentou resultados acima da média nacional tanto na comparação com mês anterior (3,7%), quando ante janeiro do ano passado (9,8%).

?A queda nas outras atividades (bens de capital e duráveis) é mais acomodação, porque cresceram muito em períodos recentes. Mas a contribuição dos não duráveis mudou para melhor?, disse. Ele acrescentou que esse ?é um sinal de um novo padrão de crescimento (da indústria), mas será preciso observar os próximos meses para confirmar?. Segundo ele, a reação desses segmentos desde dezembro do ano passado está relacionada à recuperação da massa salarial.

Vendas no Paraná caíram 13,37%

A Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) divulgou anteontem o resultado da Pesquisa Indicadores Conjunturais do setor, apontando que o Paraná fechou o mês de janeiro com crescimento de 1,15% nas vendas, em comparação ao mesmo mês de 2004. A alta no faturamento da indústria foi puxada pelas vendas dentro do Paraná, que cresceram 8,84%, sobre o mesmo período.

No entanto, na comparação com o mês de dezembro, como acontece tradicionalmente, janeiro apresentou uma queda de 13,37%.

Segundo a pesquisa realizada mensalmente pela Fiep, um dos fatores que influenciaram as vendas industriais foi o aumento do crédito pessoal. Comparando janeiro de 2004 com janeiro deste ano, o Banco Central aponta uma expansão de 45,21% no crédito oferecido pelos bancos. Isso representa uma injeção de quase R$ 15 bilhões na economia na comparação com o volume do ano passado.

Mesmo com o faturamento melhor do que no mesmo mês de 2004, janeiro foi o sexto mês consecutivo de queda nas vendas industriais paranaenses. Dos 18 segmentos pesquisados, oito tiveram destaque. A maior alta foi do segmento Química, com elevação de 35,6%, influenciada pelas compras dos setores petroquímico e sucroalcooleiro. Também cresceu o faturamento dos segmentos Perfumaria, Sabões e Velas (21,6%), Papel e Papelão (15,6%) e Produtos Farmacêuticos e Veterinários (13,6%), por estar próximo da época de vacinação dos rebanhos paranaenses.

Entre os itens que apresentaram quedas nas vendas no período estão Couros, Peles e Produtos Similares (-63,4%), Mecânica (-35,4%) e Editorial Gráfica (-28,9%). 

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