Entusiasmados com a proximidade de um novo ano, empresários principalmente da indústria e de serviços se mostraram mais otimistas com os negócios nos próximos meses e impulsionaram o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), que subiu 4,3% em outubro, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV). A melhora, que indicaria maior geração de vagas, é comum nesta época, notou o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador da FGV, mas a circunstância torna o dado surpreendente.
“Isso me surpreende muito, por causa da perspectiva de ajuste no ano que vem. Até o governo fala isso, então alguém está otimista mesmo com Banco Central aumentando juros, inflação acelerando, além desse problema da água”, detalhou Barbosa Filho, ressaltando que pode haver um resquício de efeito das eleições sobre os resultados. “É só um ponto. Após sete quedas seguidas, deu uma recuperada, mas o nível continua muito baixo. Temos de esperar para ver se é uma luz no fim do túnel ou se é um soluço e o pessoal volta a cair na realidade.”
Sem uma tendência clara de recuperação, o economista espera uma geração de vagas tímida no período que antecede o Natal. Depois, porém, o cenário não será favorável. “Muitos lay-offs (regime de suspensão temporária dos contratos de trabalho) vão virar desemprego no ano que vem. Não vejo um cenário de geração de emprego, nem de manutenção, e a renda vai crescer menos”, previu.
Barbosa Filho aposta ainda que, com maiores dificuldades em termos de renda e emprego, mais pessoas devem passar a buscar uma vaga, ao contrário do que vem acontecendo hoje em dia, quando menos gente faz parte da chamada População Economicamente Ativa (PEA). Isso, associado à não geração de postos de trabalho, deve provocar uma alta na taxa de desemprego, hoje em 4,9% segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) referente a setembro, do IBGE. “Infelizmente não vejo como manter o nível atual de emprego e ampliar a geração de vagas num ambiente como esse.”
Resultado
O resultado do IAEmp de outubro foi puxado principalmente pela alta de 17,7% no indicador que mede a tendência de negócios na Indústria, mas também pelo avanço de 6,4% no índice de tendência de negócios para os Serviços. “Todo ano, a indústria acha que ano que vem vai ser um pouco melhor. Mas ainda é cedo para ver se isso é uma tendência. Quando a base é muito baixa, a recuperação pode ser rápida, mas não significar nada”, justificou o economista.
No caso dos Serviços, a expectativa também melhorou, o que também destoou do cenário atual da atividade. “Todo mundo fala que o PIB (Produto Interno Bruto) vai mal esse ano porque os serviços estão mal. Então, não sei se as pessoas estão animadas com o fim de ano, com o faturamento. Isso pode melhorar a vida”, disse.
Do lado dos consumidores, a percepção sobre a situação atual do mercado de trabalho também parou de piorar. O Indicador Coincidente de Desemprego (ICD) subiu 0,1%, mas entre as classes de renda o resultado não foi uniforme. As famílias de baixa renda, que ganham até R$ 2,1 mil mensais, são as mais pessimistas e apostam em aumento da taxa de desemprego, enquanto as mais abastadas, com renda mensal superior a R$ 9,6 mil, acreditam que a taxa irá cair nos próximos meses.