Rio

  – Com a disparada do dólar no início deste ano no País, 27% dos consumidores deixaram de comprar produtos importados. O estrago no consumo de importados foi em todas as faixas de renda. Até na classe C (renda média familiar de R$ 927), onde 19% das pessoas eliminaram o produto da lista de compras. Na classe A -renda de R$ 7.793 em média -o percentual chegou a 34%. As informações são de levantamento da ACNielsen CBPA que será apresentado terça-feira, no Rio, a empresas de varejo, serviços e indústrias.

Os reflexos da alta da moeda americana, que nos últimos dias teve forte oscilação na casa de R$ 2,90, foram mais sentidos no consumo de alimentos. Entre os consumidores que deixaram de lado o importado, 63% eliminaram do cardápio produtos alimentícios, como azeite, peixes, frutas, queijos e biscoitos.

Outros setores também enfrentaram a rejeição do consumidor ao importado. A pesquisa revelou que entre as pessoas que deixaram de comprar esse produto, 26% cortaram bebidas alcoólicas, 15% cosméticos, 11% bebidas não-alcoólicas e 11% artigos de higiene pessoal, entre outros.

“Agora as pessoas pensam duas vezes antes de comprar importados, que estão caros. O azeite, por exemplo, passou de R$ 8 a R$ 9 para R$ 15. Embora o dólar tenha baixado em relação ao início do ano, isso ainda não se refletiu em queda de preços para o consumidor”, disse o economista Manuel Lopes, diretor-geral da ACNielsen CBPA no Brasil.

O levantamento da consultoria – que terminou em março, com as análises dos dados sendo concluídas no mês passado – constatou também que, entre os consumidores que têm expectativa econômica pior para este ano (20% do total), a principal tesourada será na compra de alimentos.

Depois vêm os cortes de compras de roupas, viagens, eletrodomésticos, celular e artigos de limpeza. Com a inflação pesando no bolso, o consumidor reclama dos aumentos. É o caso da vendedora Ana Maria Faria, que manteve a marca de qualidade do sabão em pó – produto que subiu até 45% devido aos insumos importados – mas passou a levar embalagens de meio quilo.

“Os preços de sabão e desinfetante estão absurdos. Para reduzir o gasto, o que faço é comprar menos. Não levo mais o pacote de um quilo: passei a usar menos sabão em pó na roupa”, disse Ana.

Lopes ressalta que daqueles que vão apertar o cinto cortando produtos alimentícios, o maior estrago é entre os mais pobres: 44% deles são da classe C, contra só 21% da classe A. “A classe C reage mais rapidamente à redução de poder aquisitivo. São eles que sofrem mais”, disse Lopes.

O economista Paulo Brück, coordenador do Instituto Fecomércio-RJ, culpa os juros altos, a renda baixa e a inflação elevada no País.

“O consumidor já cortou o cinema, não vai a teatro, reduziu conta de luz, está atrasado, já trocou de produto. E agora vai ter que cortar a quantidade de alimentos. A conjuntura é ruim para o comércio, que é mais afetado”, disse Brück, ressaltando que a previsão de queda nas vendas no comércio do Rio em abril chega a 11,3%.

Mas a perspectiva é de melhoria ainda este ano, concordam Brück e Lopes, diretor da consultoria. Não é à toa que a pesquisa da ACNielsen CBPA mostrou que a maioria dos consumidores (59%) disse que a expectativa econômica para 2003 é melhor que a de 2002. E para quem tiver sobra no orçamento, comprar um carro e imóvel é a prioridade. “As pessoas acham que as coisas não estão bem, mas a tendência é desapertar um pouco o cinto e gastar um pouco mais”, afirmou Lopes.

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