Rio  – O consumidor já pode começar a preparar o bolso para mais uma rodada de aumentos por causa da nova alta da cotação do dólar. A moeda americana, que voltou ao patamar de R$ 3,45 na semana passada, deve pressionar o preço dos alimentos. Segundo estimativas da Federação do Comércio do Estado do Rio (Fecomércio-RJ), o aumento deve chegar a 1,94% em setembro. Considerando que os alimentos já subiram 1,05% em julho e 1,94% em agosto, será uma alta acumulada de 5% em três meses. Carne, frango, pão francês, óleo de soja, farinha de trigo e macarrão vão continuar subindo.

Podemos esperar nova onda de aumentos no grupo alimentação, diante das altas no atacado ? afirma o coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.

No último Índice Geral de Preços (IGP), da FGV, que mostrou o comportamento da inflação de 11 de agosto a 10 de setembro, os preços da carne, até então estáveis, começaram a mostrar os efeitos da alta nos custos da ração, que é uma mistura de milho e soja, cotados em dólar. No IGP-10, o quilo do chã subiu 5,34% e o da alcatra, 3,95%. Eulina Nunes, gerente do Sistema de Índice de Preços ao Consumidor do IBGE, diz que, se a desvalorização do real continuar, os alimentos não vão parar de subir.

Quando os reflexos das altas nos alimentos, puxadas pela entressafra ? arroz e leite ? começarem a arrefecer, será a vez da energia elétrica. O Rio é última capital a ter o reajuste na conta de luz. Para quem mora na área da concessão da Light, a tarifa sobe em novembro. No cálculo, entram o IGP-M, que contém os preços no atacado com influência direta das oscilações da moeda americana, e a energia comprada da Hidrelétrica de Itaipu, vendida em dólar. Essa soma vai dar, no mínimo, uma alta de 13,56% na conta de luz, calcula Adriano Pires Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.

? A escalada do dólar fez com que 67% da receita das tarifas sejam para o pagamento da energia de Itaipu ? explica Rodrigues.

Na gasolina, projeções do BBV Banco mostram que, se fosse autorizado hoje, o reajuste teria que ser de 25% nas refinarias. Isso para compensar a alta do dólar e do petróleo, cuja cotação subiu com a ameaça de um ataque americano ao Iraque. Nas bombas, o aumento chegaria a 20%.

O governo já anunciou que não pretende fazer reajustes nos combustíveis este ano. Entretanto, os economistas acreditam que, se o dólar permanecer nesse patamar, o aumento será inevitável e deve vir após o segundo turno das eleições.

Junto com a gasolina, pode subir também o preço do gás, que voltou a ser controlado pelo governo depois que a alta do dólar e do petróleo fizeram o bujão subir 33,96% este ano. No mês passado, a Petrobras reduziu a tarifa nas refinarias e o preço caiu. Mas não se sabe até quando o governo poderá segurar os preços.

? O problema é que as pressões do câmbio ocorrem em várias etapas, durante um período superior a um ano. Até hoje estamos sentido o efeito da alta do dólar de 2001 ? explica o coordenador da área de preços da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Heron do Carmo.

O economista Luís Afonso Lima, do BBV Banco, lembra que, mesmo que o dólar recue, o consumidor terá que lidar com preços mais altos:

? Os atacadistas estavam trabalhando com o dólar de R$ 2,70, R$ 2,80 do segundo trimestre do ano passado. Parte do aumento para R$ 3 já foi repassada, mas parte não. Por isso, mesmo que o dólar, que hoje está a R$ 3,40, recue para R$ 3, ainda teremos reajustes.

Rombo no caixa das empresas

Rio

(AG) – A alta do dólar nos últimos meses já provocou um rombo de R$ 20 bilhões no caixa das empresas brasileiras. Pesquisa da consultoria Austin Asis no balanço de 240 companhias de capital aberto mostra que, no primeiro semestre deste ano, 61,20% da dívida eram corrigidos pelo dólar. Entre março e junho, o endividamento atrelado ao câmbio cresceu de R$ 89,05 bilhões para R$ 108,60 bilhões. E, nesse período, grande parte dos empréstimos contraídos no exterior não foi renovada. Ou seja, a dívida em dólar aumentou, mesmo com as empresas reduzindo o financiamento externo.

Quando comparada com os dados de um ano atrás, a dívida em dólar das empresas mais do que dobrou: passou de R$ 49,77 bilhões para R$ 108,60 bilhões, um salto de 118,20%. No primeiro semestre do ano passado, o câmbio corrigia apenas 29,43% do endividamento. Hoje, são 61,20%.

? O aumento da dívida em dólar foi basicamente devido à desvalorização do real. Não houve a contratação de novos financiamentos ? diz Suelí Melo, responsável pela pesquisa.

Com a alta de 13,12% do dólar este mês, os balanços do terceiro trimestre devem apresentar números ainda piores. Mas Suelí lembra que a maioria das empresas aumentou as operações de proteção cambial (“hedge”) das dívidas em dólar e que, por isso, o impacto no resultado das companhias não será tão grande. De qualquer maneira, diz a analista, os custos para manter o endividamento aumentaram.

? Muitas empresas têm optado por quitar parte das dívidas em vez de renová-las integralmente. Mesmo assim, o endividamento total em dólar está crescendo, porque, ao rolar parte da dívida, a empresa tem que aceitar juros maiores ? diz Suelí.

Levantamento da GAP Asset mostra que apenas 27,2% dos empréstimos externos de empresas brasileiras que venciam em julho foram renovados. A dificuldade de rolagem vem crescendo desde abril, quando a taxa de renovação foi de 30,4%, contra 70,6% de março.

? Além do período eleitoral, as empresas brasileiras estão sofrendo com uma escassez internacional de crédito ? diz Alexandre Maia, economista-chefe da GAP Asset. ? A opção foi comprar dólar para quitar os vencimentos e esse foi um dos motivos para a disparada do câmbio.

Entre quitar e renovar as dívidas, algumas empresas tiveram que seguir uma terceira opção: reestruturar seus compromissos. Foi o caso da Eletropaulo, que renegociou com credores a extensão dos prazos de pagamento. No último acordo, US$ 225 milhões que venciam em agosto foram estendidos por quatro semanas.

A maioria das empresas aumentou sua proteção cambial. A Embratel afirma que se preveniu porque já esperava uma volatilidade maior do dólar às vésperas das eleições. Hoje, 89% da dívida da empresa têm proteção cambial.

Com uma dívida total de R$ 9,7 bilhões, dos quais 64,4% são em moeda estrangeira (R$ 6,25 bilhões), a Telemar informou que todo seu endividamento externo tem proteção cambial. Além disso, apenas R$ 796 milhões de sua dívida vencem este ano. A companhia garante que tem geração de caixa suficiente para cobrir esses vencimentos.

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