Alta do dólar começa a afetar o consumidor

A disparada do dólar nos últimos dias já está chegando aos consumidores. A moeda, que chegou a custar R$ 1,56 no dia 1.º de agosto, fechou sexta-feira a R$ 2,32 – a maior cotação desde maio de 2006. A alta de quase 50% no período começa a refletir em alguns produtos, como itens de informática, bebidas e pacotes de viagens internacionais.

Dono do Mercado Eletro Informática, no bairro Rebouças, em Curitiba, Adílson Pereira da Silva conta que começou a sentir a alta do dólar a partir da última quarta-feira. “Percebi quando fui fazer a cotação com as grandes distribuidoras do Paraná”, explicou ele. De acordo com o empresário, o preço de custo de um processador básico AMD, que era R$ 57,00 a R$ 59,00 na semana passada, saltou para, pelo menos, R$ 69,00 – alta de quase 21%. No caso da memória DDR2 667, o preço de custo também subiu, de R$ 57,00 para R$ 69,00.

Já um microcomputador básico, com teclado, mouse e monitor que poderia ser comprado por até R$ 1,1 mil, não é encontrado por menos de R$ 1.345,00. “Apesar dessas altas, as vendas não diminuíram. É que o nosso forte são as empresas, e elas continuam fazendo avaliação de preços e comprando”, explicou Silva.

Os notebooks também ficaram mais caros, principalmente os modelos “top de linha”. Segundo Silva, um modelo Intel Core 2Duo, com 1Gb de memória e 160 de HD, que custava R$ 2.620,00 ao consumidor na semana passada, agora chega a R$ 2.750,00. “Há distribuidoras segurando as vendas dos produtos para evitar certo prejuízo. É que elas trabalham com grande volume de equipamentos”, explicou.

Na JFP Informática, no bairro Umbará, em Curitiba, houve alta nos preços principalmente de processadores, memória e algumas placas, como a placa-mãe. “São itens importados”, explicou o sócio-proprietário Jackson Fernando Parolin. No caso do processador Pentium, por exemplo, que custava R$ 256,00 na semana passada, passou para R$ 296,00, uma alta de 15%. Por outro lado, itens que são montados no Brasil, como teclados, mouse e gabinetes, não tiveram aumento de preços, segundo o empresário. As impressoras também mantiveram os preços da semana passada. Assim, um microcomputador que custava R$ 1,5 mil passou para R$ 1,6 mil, alta de 7%.

Com a oscilação do dólar nos últimos dias – no dia 1.º de outubro ele custava R$ 1,92 – a validade do orçamento também diminuiu. Antes, eram trinta dias, agora, apenas sete na JFP. Na Mercado Eletro, o prazo de três ou quatro dias passou para apenas dois. “Se nesse período o dólar subir, o azar é nosso”, diz Parolin, da JFP Informática. Na loja, as vendas também não diminuíram, de acordo com Parolin. “As pessoas temem que o dólar suba ainda mais”, disse.

Pacotes

Ao contrário das lojas de informática, as agências de viagens viram a procura por pacotes de viagens internacionais despencar nos últimos dias. “A partir da última semana, o aumento do dólar começou a afetar mais”, comentou o agente de viagens Daniel Maia, da Stella Barros Turismo. Segundo ele, as pessoas estão aguardando a moeda norte-americana se estabilizar para fecharem negócio. “A procura por pacotes internacionais caiu quase pela metade”, disse.

O motivo é claro: viajar para o exterior ficou muito mais caro. Exemplo disso é o pacote de sete noites para Dubai, que custa US$ 4.252 por pessoa. Com o câmbio a R$ 1,70, a viagem saía por R$ 7.228,40.
Já com o dólar a R$ 2,18, o valor pula para R$ 9.269,36, ou seja, acréscimo de R$ 2 mil. Segundo Maia, também reduziu a procura por cruzeiros, mesmo os nacionais – é que os pacotes também são cotados em dólar.

“Só está viajando para o exterior quem realmente precisa”, comentou a agente de viagens da Sidney Turismo, Tatianny Camara. Segundo ela, há muita gente trocando a sonhada viagem para o exterior por um pacote para o Nordeste, por e,xemplo.

De acordo com a agente, quem assim mesmo quer fazer uma viagem internacional, pode parcelar a viagem em até dez vezes com o câmbio do dia – ontem, por exemplo, era de R$ 2,46 na operadora. Assim, se o dólar subir para R$ 2,60, R$ 2,80 ou até mais, fica valendo o câmbio já fechado, com o valor convertido em reais.

Expectativa nas importadoras de bebidas em relação ao estoque

Já nas importadoras de bebidas, o repasse da alta do dólar depende, na maioria das vezes, dos estoques. “No dia 1.º de novembro os preços vão subir”, anunciou o gerente comercial da Agir Importadora e Distribuidora de Bebidas, Marcos César Nunes. Segundo ele, a empresa faz compras duas vez por ano – uma de vinhos e outra de rum e conhaque. Nunes prevê que a alta nos preços será de 30%, em média. A empresa abastece adegas, lojas e restaurantes. Já o sócio-proprietário da Zahil, Luciano Dall’igna, espera manter os preços até a metade de 2009, quando deve terminar o estoque atual. “Há quatro anos o preço é o mesmo, em real e não dolarizado”, explicou.

Preços

Para o economista e vice-reitor da Universidade Positivo, José Pio Martins, um dos impactos mais problemáticos da alta do dólar é o aumento nos preços de alguns produtos. “Com isso, o salário vai perder poder aquisitivo”, alertou. Para o economista, o dólar dificilmente deverá voltar a R$ 1,60. “A realidade hoje é outra. Pode cair para R$ 2,10, R$ 1,90, mas R$ 1,60 era um valor irreal”, comentou. O economista lembrou que, quando o Plano Real foi criado, em 1994, um real valia um dólar. De lá para cá, os preços em reais subiram pelo menos 250%, enquanto em dólar, cerca de 70%. “O dólar teria que estar em torno de R$ 2,80, R$ 2,90”, arrematou ele.

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