A taxa de inflação mais forte nos preços dos produtos industriais no atacado (de 0,10% para 0,63%) levou à aceleração do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que passou de 0,09% para 0,25% de agosto para setembro. A avaliação é do coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros. De acordo com ele, os preços dos insumos industriais estão voltando a subir devido ao reaquecimento da economia doméstica, cuja retomada caminha paralelamente à trajetória de recuperação na economia internacional – que levou a uma recuperação nos preços das commodities industriais no mercado externo.
Entre os destaques de aumentos de preços no setor industrial estão celulose (5,56%), amônia (17,80%), álcool hidratado (7,71%) e alimentos processados, que representam quase 10% da inflação atacadista e subiram 2,52% em setembro. Nesse último, o grande destaque foram as altas de preços em açúcar cristal (19,04%) e açúcar refinado (16,38%). Quadros explicou que houve uma grande quebra de safra de açúcar na Índia, o que levou os produtores brasileiros de açúcar a deslocar produção para o mercado internacional, e assim angariar maior rentabilidade na venda do produto. Com isso, a oferta de açúcar diminuiu no mercado doméstico, o que levou a aumentos de preços.
Ainda de acordo com o especialista, os preços dos alimentos in natura, que estavam subindo 4,42% em agosto no atacado, voltaram a cair e registraram queda de 0,70% em setembro. Um dos destaques foi a mudança na trajetória de variação de preços do tomate, de agosto para setembro (de 50,96% para -11,73%). “Isso ajudou a segurar um pouco o avanço da inflação no atacado”, afirmou Quadros.
Descontrole
O avanço do IGP-DI de agosto para setembro não representa descontrole inflacionário nem deve ser usado “como justificativa para aumento de juros”, na análise de Quadros. Ele fez o comentário ao observar que, embora a inflação mensurada pelo índice tenha acelerado, em um período de dois meses, isso não representa choque inflacionário. Para ele, os preços estão acompanhando a retomada da demanda doméstica, originada da recuperação gradual da economia brasileira.
“O que acabou nos IGPs (índices gerais de preços) é o fenômeno deflação associado a sinais de recessão. Mas não estamos lidando com uma explosão de alta de preços”, resumiu o especialista. Ele frisou que, até o momento, não há perspectiva de choque de aumentos de preços, tanto no mercado externo como no doméstico.
Ainda de acordo com ele, a taxa anual do IGP-DI referente a 2009 ainda tem chance de encerrar em queda pela primeira vez em sua história, iniciada na década de 40. Até setembro, o índice acumula queda de 0,65% em 12 meses. “Essa taxa acumulada em 12 meses deve intensificar a trajetória de queda em outubro”, projetou, ao afirmar que a taxa do IGP-DI de outubro de 2009 será bem menor do que a de igual mês em 2008, quando subiu 1,09%. Ou seja: ocorrerá uma substituição, na série histórica em 12 meses, de uma taxa mensal alta por outra bem menos elevada. Isso vai ajudar a derrubar o desempenho acumulado do índice, na análise do especialista.