Apesar do avanço do desemprego e da queda no rendimento dos trabalhadores, a indústria parece estar encontrando brecha para manter os preços de alguns itens elevados ou até mesmo tendo espaço para reajustá-los, tentando repassar alta de custos com energia, água e dólar. Dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostram que os preços de determinados produtos, especialmente os da chamada linha branca, avançaram no âmbito do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) entre a segunda e a terceira quadrissemana (últimos 30 dias terminados na segunda-feira, 22). “Nessa leitura, teve um imprevisto, que foi a pressão de alta em equipamentos no domicílio (1,14%), aparelhos de imagem e som (1,06%) e eletroeletrônicos (2,32%)”, disse André Chagas, coordenador do IPC.

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O economista citou como exemplo de pressões de itens de linha branca geladeira (de 1,60% para 1,79%), fogão (de 5,99% para 7,36%), máquina de lavar (de 1,34% para 2,03%), além de televisor (de queda de 0,28% para alta de 0,82%) e DVP Player (2,61%). Lembrando que estes dois últimos encabeçam a parte de imagem e som. “Nas pesquisas de ponta (mais recentes), fogão está com alta de 8,2%, enquanto máquina de lavar sobe 4,98%”, adiantou.

Já o IPC-Fipe, que mede a inflação na capital paulista, manteve-se em 0,54% na terceira medição de junho em relação à quadrissemana anterior. Apesar do avanço nos preços dos itens de linha branca, o grupo Habitação, do qual os produtos fazem parte, desacelerou para 0,59%, ante 0,69% na segunda leitura do mês. Isso porque, lembrou Chagas, a variação do item energia elétrica passou de 1,21% para 0,81%, e tem peso mais relevante no grupo Habitação.

Segundo Chagas, o movimento surpreende, pois é atípico para este período, ainda mais neste momento de piora do mercado de trabalho. “Em geral, em junho não é um mês em que o setor eleva tanto os preços. Não dá para descartar que possa estar ocorrendo repasse por causa do encarecimento de energia que impacta no custo de produção da indústria. Tem ainda gastos relacionados à água e a câmbio”, disse.

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Na avaliação do professor, “infelizmente”, a piora do mercado de trabalho ainda não se mostrou tão drástica, a fim de impedir repasse de preços para os produtos. “Uma taxa de 6,7% é ruim, mas ainda não é tão elevada a ponto de levar a uma deflação. O nível do desemprego teria de acelerar rapidamente para a faixa de 8% para os preços reagirem também de maneira rápida”, disse.

Em maio, a taxa de desemprego avançou para 6,7% ante 6,4% em abril, sem ajuste sazonal. O resultado, informado hoje (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o maior para o mês de maio desde 2010 (7,5%). Já o rendimento médio real dos trabalhadores caiu 1,9% em relação a abril e cedeu 5% ante maio de 2014.

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