A alta da Selic anunciada nessa semana pelo Comitê de Política Monetária (Copom) é a primeira atitude concreta para ajustar a economia, segundo o sócio-fundador da gestora Mauá Sekular e ex-diretor do BC, Luiz Fernando Figueiredo. Para ele, o ajuste da política monetária tende a ser menor por ter começado antes do esperado. “Se você tem de tomar um remédio e toma antes de o quadro se tornar crônico, no final você acaba tomando menos e em doses menores, com efeito colateral menor”, afirmou em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
Segundo Figueiredo, existe uma sinalização da presidente reeleita Dilma Rousseff de que a política fiscal tende a ser mais responsável no segundo mandato. Entretanto, por enquanto isso é apenas um sinal e por isso é difícil mensurar a magnitude do ciclo de aperto monetário.
Um dos motivos para a sinalização de retomada de uma política fiscal mais sustentável, na avaliação de Figueiredo, é que o governo sabe que as agências de classificação de risco estão alertando que o Brasil pode perder o grau de investimento, no médio prazo, se continuar na trajetória atual.
Outro receio do governo é com um possível descontrole da inflação, que tem impactos muito negativos, tanto na economia quanto em termos de popularidade. “O fato é que o governo aceitou mais inflação nos últimos quatro anos, mas sabe que isso não quer dizer deixar a inflação ir para 6,5%, 7%, 8%. A decisão dessa semana é o BC dizendo que não está satisfeito com a inflação no teto da meta”.
Figueiredo afirma que, na visão do BC, o aumento de juros anunciado não contradiz, do ponto de vista técnico, as recentes medidas de liberação de compulsório. Mesmo assim, o ex-diretor disse acreditar que essas ações acabaram tendo um saldo final negativo. “As medidas de compulsório podem até ter razão, do ponto de vista específico dos setores afetados, mas o efeito de sinalização acrescentou mais incertezas. O efeito colateral foi pior do que o remédio”, opina.
Ele também acredita que a decisão do Copom ontem não tem nenhuma relação com possíveis mudanças na diretoria da instituição, tendo em vista que alguns membros já teriam tempo de casa para se aposentar. Para Figueiredo, o placar dividido da decisão (com cinco votos favoráveis ao aumento e três pela manutenção) reflete o fato de os integrantes do comitê acreditarem que estão tomando uma atitude preventiva. Mesmo assim, “a decisão dividida não reduz a importância da sinalização” dada pela autoridade monetária.