As sucessivas variações positivas do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – usado como parâmetro para o sistema de metas de inflação do governo – não revelam a volta da inflação galopante. É a opinião de economistas ouvidos pela reportagem de O Estado.
De janeiro a junho, o IPCA acumula alta de 3,48% -quase dois terços da meta de inflação de 5,5% estabelecida pelo governo para 2004. O próprio Banco Central (BC) já avisou que a inflação deve ficar um pouco acima da meta, em 6,4%.
“É um índice alto, mas já esperado”, aponta o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos no Paraná (Dieese-PR), Cid Cordeiro, referindo-se ao IPCA. Segundo ele, a inflação brasileira tem a figura de uma barriga saliente, com inflação mais alta em junho, julho e agosto. “É quando ocorre a pressão dos alimentos e das tarifas públicas”, explica. Para o economista, o IPCA de junho (0,71%), o segundo maior do ano, confirmou a expectativa do mercado de que o núcleo da meta da inflação para este ano está inviabilizado.
“A estimativa do mercado é que o ano termine com inflação de 7%”, diz. Apesar da variação positiva, a alta dos preços ainda estará dentro da margem de tolerância da meta, de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo – ou seja, dentro de uma faixa de variação de 3% a 8%. Caso ficasse fora dessa margem, o Brasil teria que explicar ao Fundo Monetário Internacional (FMI) as razões para o descumprimento da meta de inflação.
“A inflação está ficando maior mas não significa que está fugindo do controle”, tranqüiliza Cid Cordeiro. Para ele, a inflação fugiria do controle caso houvesse uma combinação de fatores: alta generalizada de preços, se esta alta fosse acompanhada de forte recuperação de demanda e ainda houvesse a indexação. “Todos esses fatores levariam a um aumento sucessivo. Por enquanto o País não corre este risco.”
Para Cid Cordeiro, o governo até poderia tentar reduzir a inflação, porém a preço alto. “A inflação diminuiria se o governo elevasse drasticamente a taxa de juros, mas provocaria um grande custo econômico e social para o País”, afirma. Segundo ele, o próprio BC já assimilou que o “núcleo da meta está estourada.”
Quanto à causa da inflação no País, Cordeiro atribui aos fatores de choque de oferta: variação cambial, preço do petróleo, commodities agrícolas. “Foram fatores externos, que têm propagação pontual na economia e independem do governo”, aponta, acrescentando que o remédio para combater a economia de oferta traz mais resultados negativos do que positivos.
Índice preocupante
Para o economista Gino Schlesinger, do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), o índice de inflação é preocupante. “Mas não usaria o termo ?volta da inflação”, pondera. Segundo ele, houve um reaquecimento de preços, mas que não deve perdurar nos próximos meses.
No caso específico de Curitiba – que apresenta a maior inflação acumulada no ano no País (5,11%) -, o economista diz que a situação está um pouco mais difícil, mas em termos nacionais o índice ainda está sob controle. “A economia está se aquecendo e pressionando os preços dos produtos”, aponta. Para ele, em Curitiba a inflação deve ficar próximo a 8% ou passar disso. “Em nível nacional, há uma compensação de uma região para outra. E o comprometimento do Banco Central é com o índice nacional”, explica.
A expectativa, segundo ele, é que a situação melhore em Curitiba nos próximos meses. “Deveremos ter um segundo semestre melhor. As maiores pressões, como de alimentação, vestuário, tarifas de ônibus, água e esgoto e energia elétrica, já ocorreram.” Nos próximos meses haverá reflexo ainda da alta da telefonia fixa e da energia elétrica. “Elas vão pesar menos que as outras tarifas”, diz.
Apesar da variação positiva da inflação, o economista do Ipardes acredita que há espaço para reduzir a taxa básica de juros (Selic). “Tem espaço para diminuir, mas o governo é muito conservador e tem medo da volta da inflação. Prefere, portanto, causar danos ao crescimento econômico à possibilidade de retorno da inflação”, arremata.