Apesar do arrefecimento nos preços na reta final do ano, os aumentos nas despesas das famílias com alimentos ao longo de 2016 deram a maior contribuição para a inflação de 6,29% acumulada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O grupo Alimentação e bebidas teve alta de 8,62% no ano, um impacto de 2,17 pontos porcentuais sobre o IPCA. O brasileiro pagou mais pelo tradicional feijão (56,56%) com arroz (16,16%), embora tenha havido redução nos preços da cebola (-36,50%), batata-inglesa (-29,03%), tomate (-27,82%) e cenoura (-20,47%).
“Como tem um peso muito grande no orçamento das famílias (25% do cálculo do IPCA), a alimentação diz muito como será a taxa de inflação”, explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.
A coordenadora do IBGE lembra que a produção agrícola brasileira foi 12% inferior à de 2015, o que prejudicou a oferta de produtos, pressionada também pelo aumento na demanda internacional.
“Temos hoje vários países em desenvolvimento que aumentaram o consumo de alimentos, que estão importando mais e muito do Brasil. Há vários locais com clima mais rigoroso, o aquecimento tem provocado problemas nas lavouras. Então os alimentos têm sido um ponto de pressão no custo de vida”, disse Eulina.
Os alimentos para consumo em casa subiram 9,36% em 2016, enquanto a alimentação consumida fora de casa subiu 7,22%. A alimentação fora de casa liderou a lista de principais impactos no ano sobre o IPCA do ano, o equivalente a 0,63 ponto porcentual.
“Mas a alimentação fora de casa cresce menos do que os alimentos preparados em casa. Isso mostra também a questão da renda, é a questão da demanda mais fraca”, completou Eulina.
Saúde
A segunda maior influência sobre o IPCA do ano partiu do grupo Saúde e cuidados pessoais, com elevação de 11,04% e contribuição de 1,23 ponto porcentual. Os dois grupos juntos somaram 3,40 pontos porcentuais de impacto sobre a inflação, o equivalente a 54% da taxa.
O grupo foi o único a registrar aumento de preços maior do que em 2015, quando avançou 9,23%. A maior pressão de 2016 foi do reajuste das mensalidades dos planos de saúde, com elevação de 13,55%, a mais alta desde 1997. O item teve impacto de 0,45 ponto porcentual sobre o IPCA.
Já os remédios subiram 12,50% em 2016, alta mais elevada desde 2000, que resultou numa contribuição de 0,40 ponto porcentual. Outro destaque no grupo foram os artigos de higiene pessoal, com elevação de 9,49%.
“O reajuste concedido ao plano de saúde foi maior e linear, extensivo a todo mundo. Em medicamento o aumento também foi maior. Além do reajuste ter sido mais forte, a elevação do ICMS em vários estados sobre preços dos medicamentos também provocou reajuste nos preços”, contou Eulina.
Os demais grupos que encerraram 2016 com resultado acima do IPCA foram Educação (8,86%), com destaque para os cursos regulares (9,12%), e Despesas Pessoais (8,00%), onde sobressaiu o item empregado doméstico (10,27%).
Monitorados
A inflação de bens e serviços monitorados passou de 0,22% em novembro para um ligeiro recuo de 0,01% em dezembro, dentro do IPCA. A redução teve influência da tarifa de energia elétrica, que ficou 3,70% mais barata no último mês do ano.
No fechamento de 2016, a inflação de bens e serviços administrados acumulou uma alta de 5,50%, ante uma elevação de 18,08% em 2015. No ano passado, a conta de luz acumulou uma queda de 10,66%, após um salto de 51% em 2015.
Serviços
A inflação de Serviços passou de 0,42% em novembro para 0,65% em dezembro, dentro do IPCA. A aceleração teve influência das passagens aéreas, que subiram 26,29% no último mês do ano, explicou Eulina.
“Apesar do aumento em dezembro, as passagens aéreas ficaram 4,88% mais baratas no ano, o que reflete a demanda mais fraca. As empresas estão reclamando, fazendo redução de rotas, de frota”, lembrou Eulina.
No fechamento de 2016, a inflação de Serviços acumulou uma alta de 6,50%, ante uma elevação de 8,09% em 2015.