A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) confirmou as expectativas do mercado financeiro e subiu para 0,76% em janeiro, ante 0,52% em dezembro. A alta dentro do limite esperado pelos analistas econômicos (0,65% a 0,85%) manteve as apostas na manutenção da taxa básica de juros em 16,5% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Apesar disso, a unanimidade do dia anterior foi quebrada e já houve ontem, da parte de alguns operadores de mesa do mercado, espaço para previsões de possível corte na Selic ainda este mês.
As pressões sobre o IPCA em janeiro foram “pontuais”, observou a gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. O índice é referência para as metas de inflação do governo. A divulgação ontem da primeira taxa do ano provocou nova onda de previsões do mercado para a inflação em 2004, com projeções entre 5,5% (centro da meta estipulada) e 6,3%. O objetivo do cumprimento da meta central de inflação foi o principal motivo apontado na ata do Copom do mês passado para justificar a decisão pela manutenção da taxa de juros sem cortes.
A elevação do IPCA em janeiro foi resultado especialmente de três pressões distintas que, juntas, contribuíram com metade (0,38 ponto percentual) da taxa mensal: produtos alimentícios, com reajuste de 0,88%, energia elétrica (2,19%) e automóveis (1,62%). Eulina explicou que a alta dos alimentos não foi generalizada e esteve concentrada em produtos prejudicados pelo excesso de chuvas, como tomate (25,8%) e feijão carioca (10 74%). Também foi pontual a pressão do arroz, que subiu 3,61% e deu a maior contribuição individual de alta para os alimentícios por causa de uma “pressão sazonal de transição de safras”.
No caso da energia elétrica, o aumento foi influenciado por reajustes em 5 das 11 regiões pesquisadas. Os automóveis subiram sob impacto especialmente dos reajustes da indústria do aço.
Tarifas deixam Curitiba com inflação maior
Com os preços administrados subindo bem mais que a média nacional, Curitiba começou o ano com os maiores índices de inflação do País entre as onze regiões pesquisadas pelo IBGE. No IPCA, que mede o custo de vida para famílias com renda mensal entre um e quarenta salários mínimos, a alta foi de 1,45%. Já no INPC, que reflete a variação de preços para famílias que ganham entre um e oito salários mínimos, a taxa foi 1,62%. Nos últimos doze meses, Curitiba acumula 6,81% no IPCA e 7,23% no INPC.
Energia elétrica, água e esgoto e combustíveis foram os principais impactos na inflação de Curitiba em janeiro. “Sem a variação das tarifas de energia e de água, o INPC teria fechado em 0,74% e o IPCA em 0,98%”, aponta o economista Cid Cordeiro, supervisor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). “A alta de preços do início do ano em Curitiba está concentrada em contratos indexados, aumentos atrasados (energia e água) e aumento das margens de lucro”, cita.
No primeiro mês de 2004, a cesta de serviços públicos com preços administrados por contrato e monitorados pelo governo teve elevação de 3% em Curitiba, conforme a pesquisa mensal do Dieese em conjunto com o Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge/PR). Foi o índice mais alto desde fevereiro de 2003 (4,56%). Em janeiro do ano passado, a variação foi de 1,85%. Para uma família curitibana, o custo dos serviços públicos foi de R$ 421,36 – contra R$ 409,10 em dezembro do ano passado.
A principal contribuição para o aumento nos preços administrados em Curitiba veio da energia elétrica. A retirada do desconto da tarifa da Copel e o encargo de aquisição de energia emergencial, que vigorou somente em janeiro, somaram 15,51%. O reajuste de 14% na taxa de água e esgoto, que entrou em vigor no dia 15 de janeiro, representou aumento de 7,69% em janeiro e deve impactar em mais 5,98% em fevereiro, informa o economista Sandro Silva, do Dieese.
Todos os combustíveis registraram incremento de preço no mês passado: gasolina (3,69%), álcool (8,04%) e diesel (1,54%). O reajuste da passagem de ônibus, que valeu somente nos dias 25 e 26, representou 0,98%. A única queda foi verificada no táxi (-14,06%), em função do fim da bandeira 2, que funciona em dezembro como “décimo terceiro” para a categoria.
Em fevereiro, o comportamento dos preços administrados vai depender das definições em relação às tarifas de pedágio e de ônibus urbano, observa Silva. Porém a tendência é que a pressão inflacionária se reduza. “Dois fatores inibem a corrida de preços: o Banco Central anunciou que vai elevar a taxa de juros caso haja qualquer movimento que ameace a meta inflacionária, e a renda da população, que fechou 2003 em queda e apresenta lenta recuperação”, assinala Cordeiro.
