Um cenário de alimentos mais baratos em São Paulo levou à continuidade da deflação no varejo da capital paulista, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S), que mostrou queda de 0,08% nos preços da cidade, na última quadrissemana de julho, após cair 0,13% na quadrissemana anterior. No entanto, a queda nos preços dos alimentos ajuda a disfarçar o avanço da inflação varejista em outras frentes, por exemplo, no setor de serviços, cujos preços estão em alta na capital paulista. A análise é do economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) André Braz.
O especialista da fundação explicou que, em São Paulo, a deflação nos preços dos alimentos continuou, embora mais fraca, passando de -0,99% para -0,83%, entre a terceira e a quarta quadrissemanas de julho. Isso porque, na cidade, assim como nas principais capitais do País, os preços dos produtos in natura ainda registram quedas de preços intensas, como hortaliças e legumes (de -7,72% para -7,34%) no mesmo período.
“De uma maneira geral, os preços dos alimentos in natura subiram muito no primeiro semestre do ano. Mas a partir de meados de junho, o clima mais favorável melhorou a oferta no mercado doméstico. A melhora na oferta tem contribuído para a queda de preços no setor”, resumiu o especialista, acrescentando que o setor de alimentação tem peso expressivo na formação da taxa do IPC-S.
A grande visibilidade e peso dos alimentos na formação dos índices varejistas em São Paulo também ajudaram a conter o impacto do avanço de preços de serviços na capital paulista. Braz comentou que, ao se calcular o núcleo da inflação varejista na cidade, a partir da exclusão das principais quedas e mais expressivas altas de preço, é possível perceber a persistência inflacionária: a taxa do núcleo ficou praticamente estável em São Paulo, e saiu de 0,30% para 0,32%, de junho para julho. Segundo o técnico, vários tipos de serviços na cidade estão acumulando a inflação acima da média em São Paulo – cujo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) em 12 meses até julho registra alta de 4,27%.
“Para o mesmo período, temos serviços com taxas acumuladas em 12 meses que são o dobro, ou mais que o dobro deste porcentual, em São Paulo”, afirmou. Como exemplos, ele citou as taxas acumuladas em 12 meses de refeições em restaurantes (8,82%); cafezinho (9,22%); consultas médicas (10,42%); e empregadas domésticas (8,91%).
Para o especialista, no curto prazo, a continuidade da deflação dos alimentos vai conduzir a taxas de inflação menores em São Paulo e em outras capitais. “Mas isso não vai durar para sempre. Ainda que os alimentos ofereçam um alívio inflacionário hoje, isso não vai perdurar ao longo do segundo semestre, quando os avanços nos preços dos serviços devem aparecer mais na inflação”, avaliou.
A capital paulista representa quase 50% do total dos índices inflacionários varejistas calculados pela FGV, e funciona como uma espécie de parâmetro para mensurar o cenário da inflação nacional junto ao consumidor.