Brasília – “O Brasil não vai tão bem assim. Temos de fazer alguma coisa para ajustar a economia brasileira, para que ela volte a crescer, a gerar empregos e a produzir renda”, disse ontem o vice-presidente José Alencar em fórum sobre a flexibilização das leis trabalhistas, no Tribunal Superior do Trabalho (TST). A fórmula, disse, é exportar e, simultaneamente, promover o crescimento do mercado interno, com grande distribuição de renda. “A saída para o Brasil agora é fazer crescer seu saldo de balança comercial, para que haja o fim do constrangimento cambial e o Brasil possa, naturalmente, crescer por meio da queda dos juros.”
Alencar representou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no TST. Os movimentos de reivindicação salarial foram enfraquecidos pela crise econômica, pois os trabalhadores têm medo de perder o emprego, disse o vice-presidente. “A cada dia o salário é mais achatado e, além do desemprego, estamos convivendo com o subemprego.” Segundo Alencar, Lula conhece essa situação “melhor do que todos”. Sobre os sindicatos, afirmou que eles deveriam pôr os interesses nacionais acima do espírito de corpo, pois o benefício seria para todos.
No discurso, o vice-presidente elogiou algumas conquistas do governo de Getúlio Vargas, entre elas a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e de empresas como a Companhia Vale do Rio Doce, Companhia Siderúrgica Nacional e Petrobras. Também no evento, o ministro do Trabalho e Emprego, Jaques Wagner, esclareceu que as discussões do Fórum Nacional do Trabalho, previstas para abril, foram adiada para o início de maio, de modo a evitar sobreposição com os debates sobre as reformas previdenciária e tributária. Esse fórum terá 60 integrantes, indicados por trabalhadores, empresários e governo.
Em Brasília, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), classificou de “sofrível” a atuação política do governo Lula nestes 100 dias e fez críticas diretas ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. A atuação do governo na área administrativa e social foi considerada medíocre. Mas a condução da economia recebeu elogios, com menção especial ao presidente Lula e ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci.
“Ele (Dirceu) está de salto alto e daqui a pouco vai machucar também a perna”, disse, numa alusão ao fato de Dirceu estar com o braço machucado. “Quer ganhar o prêmio Nobel de economia ao falar sobre o assunto e suas declarações à imprensa são injustas e tolas”, afirmou. “Para o líder tucano, o ministro revela “má-fé” ao declarar que em três meses o governo Lula fez o que FHC.
Desemprego continua em expansão
São Paulo – Com o Brasil caminhando para mais um ano de pífio crescimento econômico e inflação na casa dos dois dígitos, as chances de o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reduzir o desemprego e recuperar o poder aquisitivo dos brasileiros em 2003 são praticamente nulas, avaliam analistas. A combinação de juros altos para conter a aceleração da inflação com arrocho fiscal deverá limitar a atividade econômica, cuja expansão é condição crucial para produzir alguma melhora no mercado de trabalho. “Não há nenhum motivo por enquanto, para estimar um crescimento em 2003 maior que em 2002 ou 2001, porque os juros são mais elevados, o aperto fiscal é maior e a renda do trabalhador caiu mais”, disse o professor Anselmo Luiz dos Santos, da Unicamp. “A expectativa é que o desemprego cresça, como já ocorreu em janeiro e fevereiro.” O governo reduziu sua previsão para o crescimento do PIB este ano de 2,8% para 2,2%, mas a maioria dos economistas acredita que o PIB cresça apenas entre 1,4% e 1,8%, comparado a uma expansão já modesta, de apenas 1,52 por cento em 2002. Analistas calculam que a economia precisa apresentar um crescimento superior a 3,0% ou 4,0% ao ano para gerar empregos.
