A trégua dada pelos preços do etanol em maio, com a moagem tardia da safra de cana-de-açúcar, parece ter acabado bem antes do período de entressafra. Nos postos da capital, bandeirados ou não, o litro do combustível já ameaça romper a barreira dos R$ 1,80. A razão, segundo os proprietários, vem do repasse das distribuidoras que, por sua vez, reclamam do aceleramento dos valores cobrados na usina.
“No caso do álcool, eu pago para abastecer”, reclama o sócio-proprietário do Auto Posto Monalisa, Newton Gusso. A última carga recebida da distribuidora Ipiranga veio com o valor de R$ 1,66 por litro. Com isso, na bomba, o valor foi atualizado para R$ 1,76. São R$ 0,10 bruto de margem que, segundo Gusso, perdem-se nos custos de funcionários e nos percentuais pagos as operadoras de cartão de crédito. “Como os encargos e o salário, para cada litro de etanol que vendo, R$ 0,07 ficam no custo do frentista e outros R$ 0,05 nas taxas cobradas pelas compras no cartão”, detalha. “Quem trabalha corretamente, pagando os devidos impostos e comprando cargas de distribuidoras que recolheram devidamente o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços), não consegue oferecer um preço mais competitivo”, avalia Gusso, que diz estar extremamente desmotivado com o negócio que ele administra há 15 anos. “Se eu não tivesse um passivo para saldar, já havia passado para frente”. Para ele, falta ao setor uma fiscalização ostensiva para elevar o grau de moralização.
O Posto Rodovia dos Minérios, que trabalha com bandeira branca e pertence à Rede Sol, entre o recente período de recuo nos valores do etanol e a retomada, estampou nada menos que R$ 0,19 de variação no litro. Na última compra, a distribuidora cobrou R$ 1,65 pelo litro e o posto está comercializando a R$ 1,75 o valor do litro do etanol, bem diferente dos R$ 1,59 cobrados no início de maio. E a tendência de alta segue a pleno vapor. A previsão no posto é de que na próxima segunda-feira (20), o preço na bomba volte a subir, já que na cotação dos valores para a próxima compra, as distribuidoras têm cobrado, no mínimo, R$ 1,69 pelo litro. De acordo com a gerência do posto, até existem no mercado distribuidoras vendendo por menos, mas isso não é obtido dentre aquelas que apresentam comprovantes de recolhimento do ICMS.
O Auto Posto Mocelin, que opera com combustível Esso, também confirma a pressão nos preços do etanol que, no local, já está em R$ 1,78. “Todo dia sobre um pouco”, aponta o funcionário André Leopoldino.
Usinas inflacionadas
Pela série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/ESALQ) é possível verificar o aumento semanal no valor do etanol hidratado, a ponto de somar R$ 0,08 a mais no último mês, no valor pago em São Paulo e que serve de base para o Paraná. Na comparação com o mesmo período de 2010, nota-se um acréscimo ainda mais agressivo, em torno de R$ 0,40, no preço cobrado pela usina. Mesmo assim, a Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar) não considera que o problema esteja na usina. “Basta pegar a inflação do período, para ver que os valores são equivalentes”, explica o superintendente da Alcopar, José Adriano da Silva Dias. “Também é necessário se levar em conta uma série de fatores, como a menor produtividade da cana neste ano, por conta da seca”, acrescenta.