O segundo semestre deste ano pode ser mais movimentado no mercado de renda fixa do que se esperava, com emissores novamente antecipando captações de debêntures, agora por conta do ajuste prudencial que está prometido para 2015. “Muitos emissores estão preocupados com 2015 e aproveitam o fato de o mercado oferecer agora condições melhores do que esperam à frente”, disse fonte de um grande banco que estrutura boa parte das operações de renda fixa.

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É consenso que o próximo governo, independente do resultado do pleito eleitoral de novembro, não escapará de maior aperto do juro e de um ajuste fiscal, sob o risco de ter o relevante selo do grau de investimento ameaçado.

No grupo de operações em andamento estão empresas com vencimentos previstos em 2015 e aquelas que emitiram notas promissórias e optam por alongar tais dívidas agora. A mesma fonte espera que cerca de R$ 3 bilhões em notas promissórias sejam transformadas em debêntures ainda este ano e calcula em aproximadamente 20 o número de emissões de debêntures prestes a ocorrer (pipeline).

No terceiro trimestre, uma nova captação de debêntures de infraestrutura da GRU Airport, concessionária do aeroporto internacional de Guarulhos, no montante de R$ 300 milhões, deve ser lançada no mercado, com esforço amplo de distribuição (instrução 400 da CVM), em série única, tendo as pessoas físicas como principal alvo.

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Esta operação é a segunda parte da captação via mercado de capitais do projeto de financiamento que dá suporte ao projeto de ampliação, modernização e exploração da infraestrutura do aeroporto de Guarulhos. Em março, a GRU Airport já havia emitido R$ 300 milhões em debêntures de infraestrutura, com esforço restrito de distribuição e tendo o BNDESPar entre os subscritores. De acordo com uma fonte, a nova debênture de infraestrutura irá substituir notas promissórias da concessionária.

A CPFL Geradora está em apresentação aos investidores de uma emissão de R$ 635 milhões em debêntures de cinco anos, tratando-se de um “exercício de refinanciamento”, comentou um profissional.

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No acumulado deste ano até março, as emissões de debêntures já caíram 40% em relação ao captado no mesmo período do ano passado, em grande parte por conta da baixa necessidade de capital das empresas, reprimida pela desaceleração econômica.

Segundo o mais recente boletim da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), as colocações de debêntures feitas nos três primeiros meses de 2014 recuaram para R$ 9,34 bilhões, de R$ 15,34 bilhões de janeiro a março do ano passado.

Havia estimativa de que boa parte das operações se concentraria até o meio do ano, mas com a acomodação da curva de juro longa e a pressão da demanda, os custos das captações de renda fixa têm se mostrado atraentes aos emissores. O profissional que não quis ser citado observou que o volume das emissões deve ser ditado também pelo andamento das pesquisas eleitorais. Para outros profissionais, o pesado cronograma de vencimentos de debêntures no segundo semestre deve acentuar a disputa por papéis de renda fixa e manter os prêmios e retornos desses títulos comprimidos.

“O cronograma de vencimentos é pesado e desproporcional em relação aos anos anteriores”, disse Daniel Lemos, diretor de renda fixa da XP Investimentos. Ele estima que dos cerca de R$ 13 bilhões, entre amortizações e juros, que devem vencer no segundo semestre, mais ou menos R$ 8 bilhões sejam renovados. Desse total, 40% deve ser por meio de debêntures emitidas com esforços amplos de distribuição, majoritariamente de infraestrutura. Este ano, diz o executivo da XP, o total de vencimentos de debêntures alcança R$ 31,8 bilhões, 25% superior aos R$ 25,4 bilhões de 2013.

“Os yields tendem a ficar competitivos e cair em razão do volume que acreditamos que será rolado”, afirmou. Lemos diz que algumas companhias se prepararam para evitar o mercado, em meio a falta de visibilidade para a economia durante e nos meses seguintes às eleições. “As companhias prepararam seus caixas para liquidar compromissos”, disse. Lemos espera que os prêmios das debêntures cedam do nível atual de 80 pontos-base a 120 pontos-base sobre o rendimento de um título do governo para entre 60 pontos-base a 100 pontos-base, que portanto caiam cerca de 20 pontos-base.

O executivo de renda fixa do Itaú BBA, Gustavo Bellon, diz não ter ouvido de empresas que utilizarão caixa para liquidar debêntures, mas concorda que a demanda por papéis de renda fixa pelas assets e fundações é grande. De qualquer forma, ele destaca que os investidores continuam evitando o alongamento de prazos. “Temos visto uma redução no tempo médio das operações mais expressiva do que em 2013”, disse.

O gestor de uma grande asset que não quis se identificar prevê que, apesar da demanda, os investidores irão “brigar” para evitar que as taxas caiam mais. “Existe de fato uma escassez, mas não vamos ceder nas remunerações, que já nos parecem comprimidas em relação aos nossos cálculos de valor dos papéis (valuation)”, disse. “Tentaremos manter as taxas de remuneração nos atuais níveis”, acrescentou.