Ainda não há consenso sobre movimento do BCE

Apesar do surpreendente discurso de Mario Draghi, que trouxe uma data para eventual ação do Banco Central Europeu (BCE), ainda não há consenso entre os analistas do mercado financeiro sobre quais serão os próximos passos da instituição. Parte dos economistas reconhece o tom mais duro do presidente do BC europeu, mas ainda não acredita em uma ação automática no próximo mês. Entre os que apostam em um movimento, não há certeza sobre qual será a tática usada pela casa.

Após manter o juro inalterado em reunião na semana passada, o presidente do BCE disse que a instituição pode tomar medidas para afastar o risco de deflação já no próximo mês. “Há um consenso em não estar conformado com isso, o que levará a um consenso sobre a ação”, disse Draghi. “O conselho está confortável em agir na próxima vez, mas é preciso ver primeiro as novas projeções elaboradas pelo pessoal do BCE”, completou.

Apesar da forte reação das cotações, nem todos os economistas estão seguros sobre novas ações do BCE. “Não é certo que o BCE realmente vai agir em junho. A economia tem reagido e projeções podem ser elevadas. E se a inflação melhorar ligeiramente? E se o crédito crescer? São exatamente essas incertezas que levaram o BCE a manter o juro hoje e podem impedi-lo de agir em junho”, diz o economista-sênior do banco holandês ING, Carsten Brzeski.

O economista do ING diz que os indicadores econômicos não mudaram muito nas últimas semanas a ponto de fazer com que uma ação seja iminente. “A coisa nova é que o BCE está mais preocupado com a força da recuperação da economia e claramente coloca mais ênfase no câmbio. Quanto aos demais fatores, tudo dependerá das projeções de junho”, diz.

Os analistas do Citibank em Londres também não estão tão confiantes com uma ação nas próximas semanas. “Essa reunião nos deixou exatamente onde estávamos: onde há incerteza sobre o próximo movimento do BCE”, disseram os analistas em nota aos clientes. Para os economistas da casa, uma mostra da incerteza sobre os próximos passos é que, após a forte queda do euro, investidores entraram no mercado e compraram a moeda nas mínimas do dia. O movimento reduziu a queda, mas não anulou a tendência de desvalorização da divisa europeia.

Outra parte do mercado aposta em ação em junho. “Agora é quase impossível para o BCE não agir em junho”, diz o estrategista da Monument Securities, Marc Ostwald. O economista nota, porém, que não é possível afirmar com precisão qual será a ferramenta usada pela casa. “Há um consenso de que não estão em conformidade com esse cenário. Temos esse consenso sobre a ação, mas saber qual será a ação só depois de ver as projeções do BCE no início de junho”, diz.

“Draghi deu dicas muito fortes sobre uma possível ação em junho. As referências feitas mostram preocupação sobre a força da moeda e apoiam nossa expectativa de redução do juro na próxima reunião”, dizem os analistas do Morgan Stanley em Londres. Para o banco, a ação do BCE a favor do crescimento e contra o risco de deflação poderia ser potencializada se o juro pago aos depósitos bancários fosse reduzido para o campo negativo. “Mas Draghi evitou comentar o tema, o que mostra que isso pode não ser anunciado em junho”.

Marco Valli, economista do UniCredit, também concorda que a ação está por vir e prevê juro menor e também taxa negativa para depósitos bancários em junho. “Após o anúncio surpreendente de Draghi, crescem as expectativas para a ação mais ousada do BCE e acho que Draghi não está disposto a decepcionar”, disse. “Mas um relaxamento quantitativo completo, que é o único instrumento de política que poderia ter impacto duradouro sobre o euro, ainda não está à vista”, disse em nota aos clientes.

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