O economista André Braz, pesquisador do Ibre/FGV e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) apurado pela instituição, considera o resultado da inflação oficial de junho, que atingiu 1,26%, mais que o triplo do mês anterior (0,40%), um “repique transitório”. A explosão do IPCA em junho refletiu a combinação dos efeitos da greve, a pressão dos preços administrados e a desvalorização do real. Pelas pesquisas semanais que realiza para apurar o IPC-S, ele diz que há evidências de desaceleração dos preços. Por isso, acredita que esse repique de junho deve se dissipar neste mês. Para julho, Braz espera que a inflação fique abaixo de 0,30% e, no ano, pode ir 4,2%, no cenário mais pessimista, abaixo do centro da meta de 4,5%. A seguir trechos da entrevista.
O IPCA de junho surpreendeu?
Não, foi um resultado alto, 1,26%, mas já era esperado. Ele refletiu alta do câmbio, a greve dos caminhoneiros, a elevação de preços administrados e efeitos sazonais, como o aumento do preço do leite.
Na sua avaliação a inflação vai desacelerar este mês ou a tendência é de alta daqui para frente?
A inflação já está voltando. A expectativa é que a taxa recue fortemente em julho.
Mesmo o câmbio nesse nível?
O pass-through (repasse) cambial está muito contido, porque estamos com uma economia muito fraca e desemprego elevado. Por isso, não há muito fôlego para repasse, a não ser para gasolina, commodities. Mas para bens duráveis, como os eletroeletrônicos, está mais complicado repassar alta de custos neste momento. Não tem demanda para o preço atual, o que dirá para um preço mais alto.
Não preocupa essa explosão da inflação em junho?
Não. A nossa estimativa de inflação para o ano avançou, é claro. Mas está abaixo de 4,5%, que é a meta. O nosso número, provisório ainda, para a inflação deste ano está em 4,2%. A previsão otimista é em torno de 4%. Já em julho vamos ter um inflação abaixo de 0,30%, quem sabe. Em agosto, a inflação vai continuar muito baixa. Isso tudo não vai passar de um repique no mês de junho, por conta desses fatores que aconteceram ao mesmo tempo. Como fazemos acompanhamento semanal, os preços já mostram desaceleração.
Mesmo com preços administrados num nível elevado em 12 meses, o sr. não espera uma inflação elevada daqui para frente?
Não, porque do outro lado temos a alimentação que acumula no ano uma inflação muito baixa. Isso ajuda a compensar esse destaque de preços administrados. Mesmo que eles subam um pouco em julho, como energia elétrica em São Paulo, ou haja novas pressões da própria gasolina, ainda vai sobrar espaço para ter uma inflação abaixo da meta.
Os IGPs (Índice Geral de Preços) estão pressionados. Isso não pode ser uma indicação de inflação mais alta no varejo?
Apesar de os IGPs estarem acumulando uma variação mais forte do que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), eles vão começar a ceder e encontrar o caminho do IPCA. Não devem desacelerar tanto quanto o IPCA, pois têm inflações de outros segmentos, que irão perder fôlego de forma mais lenta. Mas vão desacelerar por causa da demanda fraca e da variação cambial menor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.