Brasília (AE) – Nem só os embarques de produtos do complexo soja, carnes e café sustentam a pauta de exportação do agronegócio. Frutas, álcool, suco de laranja, ovos, trigo, material genético e animais vivos também integram a lista de produtos comercializados pelo Brasil no exterior. É verdade que soja, carnes e café responderam sozinhos por metade das exportações agrícolas do País no acumulado de janeiro a setembro, comércio recorde que rendeu, no total, US$ 29,863 bilhões em divisas. Mas a pauta diversificada sustenta as exportações e também leva renda ao campo.

Os produtores de banana, por exemplo, devem faturar R$ 4,175 bilhões neste ano, mostram cálculos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), rendimento que vem em parte da exportação. Os embarques de frutas comprovam que as vendas de produtos não tradicionais têm crescido. No acumulado dos nove primeiros meses do ano, as exportações de frutas, com exceção da laranja, cresceram 16,2%, representando US$ 230 milhões.

A esse valor será somado, até o final deste ano, o faturamento dos primeiros embarques de manga para o Japão, mercado conquistado pelo Brasil depois de uma negociação de 32 anos. Estima-se que as vendas da fruta para o mercado japonês irão render, por ano, US$ 10,4 milhões.

Os valores parecem pequenos quando comparados à produção de soja, motor da economia rural, com exportações de US$ 8,728 bilhões no acumulado do ano até setembro. No entanto, produtos não tradicionais, incluídos na pauta de exportação do País nos últimos anos, também contribuíram para que o agronegócio, que deve ter faturamento de US$ 39,101 bilhões em 2005, respondesse por 42,5% das exportações totais do País.

Nichos

São várias iniciativas para ganhar o mercado externo. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, admitiu que há concentração na pauta de exportação agrícola, mas aposta na diversificação a curto prazo. “Haverá cada vez mais nichos de exportação dos produtos agrícolas do Brasil”, disse Rodrigues, citando as exportações de flores, mel, produtos orgânicos, palmito e frutas. “Temos um enorme potencial de nichos nos quais podemos crescer muito, principalmente em regiões em que não há agricultura tradicional”, afirmou o ministro, apostando nas vendas de pequenos agricultores do semi-árido.

Pequenos produtores ligados à cooperativa de Itaberaba, a 226 quilômetros de Salvador, por exemplo, estão exportando abacaxi para a Espanha. Para o chefe do Departamento de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antônio Donizeti Beraldo, a força da exportação de produtos não tradicionais pode ficar mais nítida em 2005, quando o complexo soja deve perder o fôlego exportador por conta do recuo dos preços internacionais. “O fato é que a economia do campo não é só soja, carne e café”, comentou Beraldo.

É assim que pensa o presidente da Fruticultura e Horticultura Empresarial de Minas Gerais (Fruthar), Osvaldo Celestino de Oliveira. Fundada em agosto, uma das metas da associação Fruthar é ganhar novos mercados para abóboras, melões e melancias produzidos em municípios mineiros. Entre agosto e dezembro é hora de colher a produção que atenderá à demanda da Argentina, Uruguai e Paraguai por essas frutas, principalmente abóboras. O principal mercado é a Argentina. Oliveira disse que as exportações começaram de forma inusitada. Há oito anos, os argentinos propuseram aos brasileiros o plantio das abóboras em fazendas de Minas Gerais. As baixas temperaturas nos últimos meses do ano impedem a produção em lavouras locais.

O coordenador de Proteção de Plantas da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, José Geraldo Baldini, calculou que os produtores de Minas Gerais exportarão, em 2004, 48 mil toneladas de abóboras, melões e melancias, vendas que renderão pouco mais de R$ 36 milhões. Baldini disse que 80% do faturamento vêm das abóboras.

Não com a mesma agressividade das grandes agroindústrias exportadoras, os produtores mineiros também querem mais. “Trabalhamos para que os municípios de Matias Cardoso, Manga e Jaíba sejam reconhecidos como área livre de uma espécie de mosca das frutas”, comentou o chefe do serviço vegetal da Delegacia Federal de Agricultura de Minas Gerais, Francisco Roberto de Pinho. Essa certificação é fundamental para a abertura do mercado americano para o melão mineiro. “Quanto mais compradores, melhor”, disse o presidente da Fruthar. Os americanos importam fruta produzida em Mossoró, no Rio Grande do Norte.

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