A agroindústria paranaense está preocupada com a possibilidade de faltar milho no Estado este ano. Estimativa divulgada pelo Deral (Departamento de Economia Rural) na última semana aponta para déficit de aproximadamente um milhão de toneladas no fechamento da safra. Historicamente, o Paraná sempre gerou excedentes, mas a escassez nacional do produto em 2002 pode obrigar a indústria de aves e suínos a comprar de outros estados, correndo o risco até de ter que importar milho – pagando mais caro.
No ano passado, a produção paranaense de milho foi recorde, de 12,5 milhões de toneladas. Como havia 467 mil toneladas estocadas, a oferta total chegou a 13 milhões de toneladas. Deste total, 5 milhões se destinaram ao consumo animal, 3,96 milhões foram exportadas e 1,3 milhões foram vendidas a outros estados, restando um excedente de 529 mil toneladas – incorporado à produção de 9,43 milhões deste ano.
Para os 9,9 milhões de toneladas de milho que o Paraná terá em estoque este ano, o Deral estima demanda interna de 7,6 milhões, das quais 5,4 milhões devem ser utilizadas como ração. O Deral calcula que 1,9 milhão de toneladas sejam comercializadas com outros estados e 1,6 milhões negociadas no exterior. Assim, a demanda pelo milho paranaense chegaria a 11,112 milhão de toneladas, 1,146 milhão de toneladas a mais do que a oferta prevista. De janeiro até agora, o Paraná já exportou 1,4 milhões de toneladas de milho pelo Porto de Paranaguá.
“Se sair milho do Paraná para outros estados ou mesmo para exportação, pode faltar o cereal por causa da redução da área plantada”, explica a técnica do Deral Rossana Bueno de Godoy. Ela salienta que a estimativa de déficit depende dos estoques retidos em cooperativas e propriedades, “muitas vezes difíceis de serem mensurados”.
Rossana acredita que o quadro de abastecimento de milho no Paraná será ajustado ao longo do ano. “Contudo, os produtores que dispuserem de milho para comercializar devem escoar o produto de forma gradativa, evitando picos de oferta para o segundo semestre”, ressalta. Nos últimos 20 dias, os preços do cereal registram alta de 3,1%, resultando na média estadual de R$ 12,91 a saca de 60 kg.
Escassez
Neste ano, o consumo brasileiro de milho (estimado entre 36,5 milhões e 37 milhões de toneladas) está um pouco maior que a produção (36 milhões de toneladas). “O quadro de oferta e demanda está muito apertado. Com qualquer vacilo, falta produto no País, necessitando de importação”, observa Flávio Turra, gerente técnico da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná).
“Por enquanto, ainda tem milho no Estado e a tendência é que o mercado consumidor procure segurar o produto aqui”, diz. Porém com a forte subida do dólar nos últimos dias, voltou a crescer o volume de exportações. “O mercado está muito ajustado à paridade de exportação. Com mais uma mexida no câmbio, o pessoal ganha mais em exportar. Se o consumidor de milho do Paraná não acompanhar os preços do mercado internacional, pode faltar produto no final do ano”, reforça Turra.
“O problema é que vai ficar caro para produzir suíno e frango, já que 75% do milho consumido no Paraná vai para ração animal”, frisa. No mercado internacional, a saca de milho está cotada a R$ 17,50, enquanto no Brasil, a média gira em torno de R$ 15. O mercado está preocupado não só o aumento das exportações, mas também com as compras feitas por outros estados. “Como estamos em período de escassez, o milho está muito disputado. Quem paga mais, leva”, resume Turra. Neste ano a indústria paranaense já comprou milho no Centro-Oeste, quando o produto estava mais barato naquela região, informa o técnico.
Segundo a Ocepar, cerca de 40% da safra de milho do Paraná ainda está com os produtores. O estoque está nas mãos da iniciativa privada. A avicultura e a suinocultura poderiam substituir o milho por sorgo, triticale ou triguilho, mas na Argentina só há milho e sorgo transgênico para exportação. Restaria importar dos EUA, que vende o cereal certificado.
Avipar cobra providências
O presidente da Avipar (Associação dos Abatedouros e Produtores Avícolas do Paraná), Paulo Muniz, cobra providências das autoridades em relação ao assunto. “Temos um excedente de 2,5 milhões de toneladas de milho. O Paraná não pode ficar sem esse milho, abrindo mão de ser o maior produtor nacional de milho e frango. Espero que os deputados, o secretário da Agricultura e o governador intercedam no sentido de não permitir que a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) transfira estoques de milho do Paraná para outros estados”, clama Muniz.
Historicamente, diz ele, “o Paraná tem sido vítima dessas transferências”, sendo obrigado a buscar o produto daqui em outros estados com maior custo, devido ao pedágio e frete. “Não podemos impedir ninguém de comprar aqui, mas não dá para criar ônus para a avicultura e suinocultura do Estado e bônus para os outros estados”, enfatiza Muniz. “Não podemos concordar em tirar a logística do Paraná em favorecimento dos outros estados consumidores, que podem se deslocar para Mato Grosso ou Goiás, que tem estoques de milho”, sugere.
“O setor de frango, que emprega 600 mil pessoas direta e indiretamente, com 11 mil famílias de pequenos produtores produzindo no campo, vive dificuldades naturais de um ambiente recessivo e pode ficar pior se essas atenções não forem tomadas”, alerta. (OP)