Foto: Arquivo/Agência Brasil |
![]() |
Ministro Roberto Rodrigues: há espaço para o otimismo. |
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, disse acreditar que em 2007 a agricultura brasileira começará a sair da crise econômica. Em entrevista coletiva concedida ontem às emissoras de rádio da Radiobrás (rádios Nacional AM de Brasília, Nacional da Amazônia, Nacional do Rio de Janeiro), o ministro classificou a crise como a maior enfrentada pelo setor nos últimos 40 anos.
?Hoje estamos no fundo do poço, mergulhados num pântano de dívidas, de renda quebrada e de dificuldades muito grandes. Mas, se construirmos esse projeto coletivo e articulado de medidas, teremos sem dúvida uma agricultura cada vez mais estabilizada e mais competitiva?.
Para Rodrigues, há espaço para otimismo em função de fatores como mudanças na área cambial e programas estruturantes que estão sendo desenvolvidos. ?Temos o compromisso do governo de que algumas mudanças na área cambial virão e, portanto, esse fator essencial, responsável pela crise que é o câmbio, terá uma modificação positiva à agricultura?.
No que se refere às ações estruturantes, ele citou as propostas de reformulação do seguro rural e de extensão do chamado regime de drawback para todos os produtos do agronegócio. Por esse modelo, há a isenção de impostos na importação de matérias-primas desde que o produto final seja exportado. Atualmente, essa isenção vale apenas para frutas, algodão, camarão, carne de frango e carne suína, mas, segundo Rodrigues, o ministério vai enviar uma mensagem à Câmara de Comércio Exterior (Camex) pedindo a extensão do regime aos demais produtos.
?Se somar tudo isso, câmbio, preço melhor e um seguro rural mais consistente, eu acredito que a partir do ano que vem a gente comece a sair da crise de forma bastante articulada e consistente?, afirmou o ministro.
As medidas estruturantes fazem parte do pacote para agricultura anunciado pelo governo federal na última quinta-feira (25). Entre as principais ações emergenciais está o refinanciamento das dívidas rurais referentes ao custeio da safra 2005-2006.
De acordo com o plano, parte do crédito será prorrogada automaticamente pelo prazo de quatro anos, em parcelas anuais a primeira vence um ano após a data de renegociação. O montante que será prorrogado vai variar de 20% a 80% do total, dependendo da região do País e do produto.
O governo também anunciou aumento nos recursos para o Plano Agrícola e Pecuário para a safra 2006-2007: serão destinados R$ 50 bilhões à agricultura comercial (mais 13% que na safra anterior) e R$ 10 bilhões à agricultura familiar (aumento de cerca de 10% em relação aos recursos liberados na safra passada).
?Estou convencido de que vamos ter melhoria nas condições de renda de maneira que o conjunto de medidas até agora anunciado seja suficiente para resolver essas questões de renda?, afirmou Rodrigues. O ministro destacou que a renegociação vai beneficiar grande parte dos produtores brasileiros, mas disse reconhecer que nem todos poderão ser atendidos pelas medidas anunciadas.
Prejuízos
Segundo Rodrigues, as perdas dos produtores rurais brasileiros nas duas últimas safras chegam a R$ 30 bilhões. Segundo ele, o governo vê a crise agrícola com preocupação porque os prejuízos acabam se refletindo em outros setores da economia.
O ministro ressaltou que o agronegócio fatura R$ 540 bilhões por ano, o que representa cerca de 27% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Segundo ele, a atividade também é responsável por 37% dos empregos do País e por quase 40% das exportações brasileiras.
Para Rodrigues, a negociação entre o governo e entidades representativas do setor agropecuário é essencial para a construção de medidas estruturantes que possam tornar os produtores brasileiros cada vez mais competitivos.
Entidades tentam melhorar as medidas do pacote
Quase uma semana após o anúncio do pacote de medidas de apoio à agricultura, representantes do setor primário do Paraná seguem hoje para Brasília na tentativa de melhorar algumas medidas e sugerir outras. A expectativa é que o governo federal se sensibilize e compreenda que o produtor rural precisa de um fôlego maior para driblar esta que é considerada uma das piores crises do setor.
Pela manhã, às 10h, está marcada reunião na Comissão da Agricultura da Câmara Federal. Os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Roberto Rodrigues já confirmaram presença. O presidente da Organização das Co-operativas do Estado do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski, será um dos participantes. Na bagagem, ele levará o documento com as propostas de ampliação das medidas do pacote, entre elas a de que no caso da prorrogação automática do custeio da soja, o Paraná receba o mesmo tratamento dispensado ao centro-oeste – ou seja, de prorrogação de 80% do custeio, e não 50%. Ao todo, o documento elaborado pela Ocepar apresenta seis pontos, entre elas a maior flexibilização de acesso ao FAT Giro Rural.
?Há medidas interessantes, mas que não atingem todos os produtores?, afirmou Koslovski, referindo-se ao pacote agrícola anunciado pelo governo federal na semana passada. À tarde, Koslovski participa de uma reunião no Ministério da Agricultura.
CNA
Quem também segue hoje a Brasília é o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Ágide Meneguette, que participa da reunião da diretoria da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O economista da Faep, Pedro Loyola, também vai à capital federal. Pela manhã, ele participa da reunião da Comissão da Agricultura, e à tarde, segue para sede da CNA, onde acontece a reunião da Comissão Nacional de Grãos e Crédito Rural. Na ocasião, será apresentada a pauta aprovada pelos produtores rurais do Paraná, que prevê seis medidas: a mobilização em caráter nacional, redução da produção em 30%, o fechamento de portos exportadores de grãos, o fim do bloqueio de rodovias, o bloqueio às saídas de produtos de cooperativas e o trabalho no sentido de eleger candidatos comprometidos com a agropecuária. (Lyrian Saiki)
