Produtores rurais brasileiros pressionam o governo Lula a retaliar os Estados Unidos devido à concessão de subsídios considerados ilegais pela OMC (Organização Mundial de Comércio) ao algodão. Em nota divulgada ontem pela CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária), os cotonicultores condenam a decisão brasileira de buscar uma solução negociada com o governo norte-americano ao invés de aplicar as retaliações.
No ano passado, a OMC julgou ilegais os programas de subsídios dos EUA aos produtores locais por incentivarem a formação de excedentes e reduzirem artificialmente o preço do algodão no mercado mundial.
Para compensar as perdas provocadas a agricultores brasileiros, a organização deu um prazo para que os EUA retirassem os subsídios sendo que, depois desse prazo, que já venceu, poderia haver retaliações. O governo brasileiro pediu a OMC para quebrar patentes e direitos de propriedade intelectual como forma de retaliação.
Na semana passada, o Itamaraty divulgou nota em que afirma que até o momento os EUA não tomaram nenhuma medida. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, está em Washington na busca de uma solução negociada com o governo americano. A estratégia é conseguir uma ?compensação razoável?, que implique em facilitar a entrada de produtos de interesse do Brasil no mercado americano.
O chefe do Departamento de Negociações Internacionais e de Comércio Internacional da CNA, Antônio Donizeti Beraldo, avalia que negociar alternativas precoces para resolver o impasse com os norte-americanos desvaloriza todo o processo de defesa que o País promoveu frente à OMC. ?Fazer esse tipo de negociação leva à perda de credibilidade. Compensações cruzadas não são recomendáveis?, diz Beraldo.
Na avaliação do diretor-executivo da Associação Brasileira de Produtores de Algodão, Hélio Tollini, o governo brasileiro está adotando uma decisão equivocada. ?Dizer que estamos dispostos a negociar compensações é informar aos EUA e aos países africanos produtores de algodão, que tanto admiram o Brasil pela vitória na OMC, e ao mundo algodoeiro que nada do que o Brasil fez até agora era para valer. O prejuízo não será apenas dos produtores de algodão. Todo o processo de desenvolvimento da agricultura brasileira será negativamente afetado?, afirmou o dirigente da Abrapa.
?Negociação nessa área atende aos interesses dos Estados Unidos, preocupados com as recomendações da OMC e interessados em se livrarem da incômoda ameaça de retaliação pelo Brasil.? Além disso, acrescenta o dirigente da Abrapa, sinaliza ao mercado internacional que o interesse do Brasil era ?apenas conseguir migalhas de favores comerciais dos EUA para setores que querem exportar um pouco mais?.
