Banana orgânica, produzida e industrializada por comunidades da região litorânea do Paraná, está sendo exportada para a Europa. A iniciativa, além de aumentar a renda desses agricultores, está colaborando para diminuir a pressão sobre a Mata Atlântica e seus recursos naturais, como o palmito-juçara, ainda o principal produto local. O projeto está sendo desenvolvido pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS), organização não-governamental (ong) que mantém na região três reservas particulares, voltadas para programas de seqüestro de carbono, através de recuperação de matas nativas.

Antonina (AE) – “O trabalho com os agricultores faz parte do componente de desenvolvimento sustentável dos projetos de carbono. Nosso maior desafio é trabalhar com comunidades do entorno das reservas adquiridas, para apontar alternativas de geração de renda compatíveis com a preservação ambiental”, explica o engenheiro florestal Marcelo Mendes do Amaral, responsável técnico do programa.

Segundo Amaral, a banana foi escolhida por ser o carro-chefe da cadeia produtiva dessas comunidades, já que a extração do palmito é uma atividade proibida e informal. “Trabalhamos com a agroecologia, que inclui, além da agricultura orgânica, o resgate do saber popular. Procuramos saber como essas pessoas se relacionam com a floresta e somar ao nosso conhecimento técnico-científico, já que é mais fácil os agricultores adotarem técnicas que sejam próximas à sua realidade”, diz.

Restrições

O cultivo da banana na região ainda é extrativista, com a lógica do pousio, ou seja, quando a produção cai, muda-se de lugar. No entanto, hoje existem restrições para essa prática tradicional, pois estão em área de preservação – Área de Preservação Ambiental (APA) de Guaraqueçaba -, onde não se pode abrir novas áreas de mata. “Estamos estimulando que trabalhem com o manejo do bananal, através da poda e da presença de espécies que sombreiem as bananeiras. Em uma região com 2.200 mm de chuva por ano, há muita disponibilidade de nutrientes e as plantas se regeneram facilmente, não há necessidade de abrir novas áreas.”

Das 10 mil famílias que moram na APA de Guaraqueçaba, mais da metade moram em 60 comunidades da zona rural. O projeto da SPVS trabalha, até o momento, com 75 produtores. Mas o interesse dos agricultores é aumentar na medida em que vêem os resultados.

Agroecologia

Uma das maiores dificuldades para a introdução da agroecologia, segundo o coordenador do programa, tem sido o uso de defensivos químicos. “Nas poucas comunidades que não conheciam os agrotóxicos, a conversão para agricultura orgânica foi mais fácil. Onde os defensivos são utilizados, leva até quatro anos para se conseguir o selo verde.” A certificação é feita pela Imo Control do Brasil, empresa com sede na Suíça, e com ela os agricultores conseguem agregar mais de 100% ao preço de seu produto. Enquanto o valor convencional da caixa de 22 kg de banana na região é de R$ 1,50, a banana orgânica vale R$ 3,50.

Quando consegue o padrão exportação (quando toda a propriedade é manejada organicamente, inclusive os animais), esse valor chega a R$ 4,00. Neste ano, 18 produtores já alcançaram esse padrão na região do Rio Verde. O produto é vendido para uma fábrica administrada por quatro famílias da comunidade de Batuca. A empresa foi construída com recursos da Universidade Federal do Paraná, que presta assessoria à comunidade. As exportações começaram em 2001, através da Terra Preservada, empresa exportadora de produtos orgânicos de Curitiba. Da capital paranaense, a banana-passa desses pequenos agricultores vai para a Suíça e, de lá, é distribuída na Europa.

Segundo o engenheiro da SPVS, a entidade investiu até o momento R$ 50 mil no projeto, em insumos – como o controle biológico das brocas -, e na certificação, além do transporte e trabalho dos técnicos. O maior gasto do processo é com as visitas da certificadora – uma a duas por ano -, que custa R$ 200,00 por produtor. Para garantir sua continuidade, foi criado um fundo rotativo, doado a fundo perdido pela SPVS. A expectativa é que, com o tempo, as vistorias possam ser feitas por amostragem, diminuindo o custo.

A SPVS pretende, ainda, associar a banana ao manejo comunitário do palmito, já que as áreas abertas pelos agricultores correspondem a apenas 20% de suas terras. “Queremos que plantem palmito nos 80% de floresta que ainda restam. Vamos investir em projetos de até 50 hectares, que dispensam o plano de manejo, o que encareceria demais a processo”, diz Amaral. Além disso, a ong pretende desenvolver o manejo também nas áreas onde o palmito está consorciado com a banana.

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