Agricultores devem R$ 35 bilhões ao governo

Centenas de tratores ocuparam
a Esplanada dos Ministérios,
ontem, em Brasília.

Brasília (AE) – Os agricultores devem perto de R$ 35 bilhões para o governo federal, estimou ontem o chefe do departamento econômico da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Getúlio Pernambuco. Ele defendeu a rolagem parcial dos financiamentos que não foram pagos. ?É necessário o parcelamento ou a renegociação das dívidas dos dois últimos anos-safra?, disse. ?Não estamos pedindo a renegociação total dos débitos?..

Pernambuco pediu também a liberação de R$ 1 bilhão em recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), anunciados para o início deste mês, para que os produtores quitem suas dívidas junto aos agentes privados. A CNA pede um aporte adicional de R$ 5 bilhões para os agricultores que têm hoje problema para comercializar sua safra.

A entidade divulgou uma pesquisa que mostra o comprometimento da renda do agricultor com o pagamento de dívidas com governo e fornecedores. Foram ouvidos 2.298 produtores de todo o País durante o mês de maio, e a maioria afirmou ter pendências em empréstimos tomados para custear a lavoura. ?Isso é preocupante, pois boa parte dos produtores tem também dívidas em outras linhas?, disse Pernambuco. Do total de produtores, parcela de 10% indicou que tem comprometimento superior a 60% da renda bruta.

Além do alto comprometimento da renda com as linhas oficiais de crédito rural, a pesquisa mostra que o setor também está endividado diretamente com os fornecedores de insumos. Cerca de 36% dos consultados informaram que têm dívidas desse tipo. A pesquisa, do Projeto Conhecer da CNA, indica que apenas 11% dos consultados que pediram renegociação foram atendidos em relação ao crédito de custeio. Outros 12% pediram renegociação dos débitos de linhas de investimento e conseguiram prazo maior para quitar as dívidas.

De acordo com a CNA, 28% dos produtores informaram ter dívidas por intermédio do lançamento de Cédulas de Produto Rural (CPR), mas apenas 30% desse grupo conseguiu renegociar o valor devido. ?A situação de crise de renda já estava estabelecida e era de conhecimento do governo, que lançou por meio de resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN) uma série de medidas na tentativa de facilitar a renegociação das dívidas rurais. Mas a pesquisa comprovou que essas medidas não foram suficientes para atender os problemas do campo?, afirmou Pernambuco. Para 34% dos consultados, as medidas do CMN não atenderam a demanda do setor rural. Outra parcela de 38% afirmou que as medidas resolveram apenas parcialmente os problemas de crédito.

Tratoraço

A Esplanada dos Ministérios ficou o dia inteiro, ontem, repleta de produtores rurais e cerca de três mil tratores, segundo a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em protesto contra a crise no setor. As máquinas começaram a chegar à Esplanada na segunda à noite e ficaram enfileiradas nas lateriais das avenidas da Esplanada.

Algumas exibem faixas pedindo socorro para a agricultura e outras, mais agressivas, chamam Palocci e Lula de ?pragas da agricultura?. 

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