O presidente da Vale, Roger Agnelli, recebeu na noite de ontem o prêmio Cidadania Global Dwight Eisenhower, concedido pelo Conselho Empresarial para Entendimento Internacional (BCIU, na sigla em inglês), em Nova York. Em frente ao local da premiação, em Manhattan, os representantes do Sindicato dos Siderúrgicos da América do Norte, que reúne representantes do Canadá e dos Estados Unidos, aguardavam Agnelli com outro “prêmio”, classificado pelos manifestantes como o de má cidadania global.
Agnelli foi o primeiro brasileiro a receber a honraria concedida pelo BCIU. No jantar de gala, Agnelli disse que o dia era muito especial e que decidiu “não ler o discurso. Vou dizer direto do coração”, afirmou, ao colocar as anotações de volta no bolso. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, recebeu o mesmo prêmio em 2008 e o executivo-chefe da Arcelor Mittal, Lakshmi Mittal, em 2007.
O presidente do BCIU, Peter Tichansky, em entrevista antes do evento, havia citado a honraria para Agnelli como um passo de aproximação da entidade, que congrega importantes representantes do setor privado norte-americano, com o Brasil. Durante o discurso, Agnelli abordou o comprometimento da empresa com o desenvolvimento sustentável. “Muitos pensam que a atividade de mineração é algo que afeta o ambiente. Isto não é verdade. Não há um único metro quadrado em que estejamos (operando) que afete o ambiente, e que não estejamos repondo árvores ou vegetação, ou que (não) façamos algo para proteger o ambiente”, afirmou, arrancando aplausos da plateia. A declaração foi praticamente uma resposta aos protestos que aconteciam ao lado de fora do jantar de gala.
Nas imediações do hotel, cerca de 150 manifestantes, que haviam anunciado o protesto previamente na internet, citavam a greve na Vale Inco, em Sudbury, no Canadá. Eles denunciavam os esforços da Vale para utilizar funcionários substitutos como mecanismo de interrupção da greve local iniciada em julho e protestavam também com acusações de poluição em outras regiões onde a empresa opera.
Ao final do evento, um alto executivo ligado ao evento disse que o prêmio para Agnelli havia sido decidido “antes da situação com a Inco”, em uma alusão à greve. A escolha do premiado levou cerca de um ano. O presidente do BCIU confirmou que a escolha foi feita há um longo tempo, “antes mesmo da crise econômica global. Isto foi desafiador para qualquer empresa, grande ou pequena, e a demanda por minério de ferro caiu dramaticamente. Como se gerencia isso durante uma crise praticamente sem precedentes?”, questionou. “Acreditamos que no longo prazo (a empresa) é uma força muito positiva e (foi) isto que conduziu nossa decisão”, completou.