Aftosa no MS acarreta perdas ao Paraná

A União Européia, formada por 25 países-membros, suspendeu a importação de carne brasileira após a descoberta de um foco de febre aftosa em propriedade em Eldorado (MS). A medida foi anunciada ontem, pelo Ministério da Agricultura e atinge não apenas o Mato Grosso do Sul, como o Paraná e São Paulo. Também a Inglaterra suspendeu a compra de carne do Paraná e Mato Grosso do Sul.

Para o assessor econômico do Sindicato da Indústria de Carnes no Paraná (Sindicarnes-PR), Gustavo Fanaya, a medida vai trazer um forte impacto financeiro ao Estado. A União Européia, segundo Fanaya, representou 45% das exportações paranaenses entre janeiro e julho deste ano. Do total de US$ 55 milhões em carne bovina exportados pelo Estado, cerca de US$ 24 milhões tiveram como destino o bloco econômico europeu. O Paraná é o sexto maior exportador brasileiro, atrás de SP, MS, GO, MT e RS.

?O impacto vai ser muito pesado. Era uma das hipóteses possíveis, mas a gente torcia para que não ocorresse?, afirmou o assessor econômico. Segundo ele, ainda é cedo avaliar os prejuízos que o mercado brasileiro – especialmente o paranaense – terá com a medida. ?Essa decisão da União Européia demonstra que o bloco é suscetível à pressão de produtores internos. É muito mais uma medida protecionista do que baseada em argumentos técnicos?, analisou Fanaya.

Os três estados juntos – MS, PR e SP -, representam quase 90% do total de carne brasileira exportada. ?Só São Paulo responde sozinho por 70% do total das exportações?, apontou Fanaya. Outro agravante, lembrou, é o fato da União Européia servir como referência sanitária para o resto do mundo. ?Agora tudo pode acontecer. A situação está bastante nebulosa?, afirmou o assessor econômico.

O delegado do Ministério da Agricultura no Paraná, Valmir Kowaleski, informou no final da tarde que ainda não havia sido comunicado oficialmente sobre a suspensão da importação da carne paranaense pelo bloco econômico europeu nem pela Inglaterra, mas admitiu que medidas como a anunciada pela União Européia podem de fato ocorrer. ?O Paraná está ao lado do Mato Grosso do Sul. Esse é o nosso problema?, disse.

Outros países

Além da União Européia, também decretaram embargo à compra de carne brasileira o Chile, Paraguai, África do Sul, Israel e Rússia. O Ministério da Agricultura informou ainda desconhecer a dimensão dos embargos adotados por Rússia, Chile e Paraguai porque ainda não recebeu a notificação oficial. Já Israel e África do Sul fecharam seus mercados para toda a carne bovina produzida no Brasil. A Argentina anunciou a suspensão da importação de carne bovina do Mato Grosso do Sul e o Uruguai suspendeu a importação de carne bovina e suína brasileira.

O governo russo, no entanto, divulgou medida bastante severa. O país, um dos principais importadores de carne brasileira, proibiu não apenas a compra da carne bovina como também de suínos, frango, animais vivos, leite e demais produtos lácteos, ração a base de proteína animal e qualquer equipamento que tenha sido utilizado no processamento de carnes do Mato Grosso do Sul. Já o governo paraguaio proibiu a entrada de bovinos, suínos, carne fresca e lácteos.

Missão

Técnicos do Ministério da Agricultura seguem hoje à noite para Paris, na França, onde terão reuniões, separadas, com uma delegação do governo russo e com representantes da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e da União Européia. A informação é do presidente do Fórum Nacional dos Organismos Executores de Sanidade Animal (Fonesa), Altino Rodrigues Neto. O Fonesa reúne representantes dos fóruns estaduais de sanidade animal. ?Com essas reuniões os problemas serão sanados?, disse. Os técnicos detalharão as medidas para conter o foco. ?É importante saber que um país livre de doenças não é proibido de ter uma. É proibido ser omisso na tomada de decisões, o que o governo brasileiro não está sendo?, completou.

O foco da doença foi descoberto na fazenda Vezozzo, em Eldorado (MS). Após a confirmação da aftosa em 153 animais, foram adotados procedimentos de emergência, incluindo a interdição da propriedade e colheita de material, que resultou na identificação do vírus tipo O. As medidas sanitárias incluíram o sacrifício de todos os 582 animais da propriedade. O ministério também interditou a fazenda, inspecionou as propriedades rurais em um raio de 25 km e realizou a investigação epidemiológica para identificar a origem do foco.

Novos focos no MS devem ser confirmados

Campo Grande (AE) – A confirmação de novos focos de febre aftosa no rebanho bovino de Mato Grosso do Sul pode ocorrer até o fim da semana que vem, acredita o diretor-presidente da Agência Estadual de Defesa Sanitária, Vegetal e Animal, João Crisóstemo Muad Cavalléro. Ele disse que foram localizados animais visivelmente doentes em pequenas propriedades em Japorã, município vizinho a Eldorado, onde foi confirmada a contaminação de 153 cabeças. Amostras colhidas dos animais sob suspeita, em várias propriedades rurais de Japorã, foram enviadas para análises no Laboratório Nacional Agropecuário de Belém, no Pará.

As suspeitas criam apreensão entre os pecuaristas dos municípios da região Sul do Estado, interditados por decisão do governo do Estado: Eldorado, Iguatemi, Itaquiraí, Japorã e Mundo Novo, onde vivem o rebanho estimado em 700 mil cabeças de gado de corte. Segundo Cavalléro, as novas suspeitas são resultado da primeira vistoria feita depois da interdição das atividades pecuárias na área de atuação da defesa sanitária. Até agora, 685 mil bovinos estão sob suspeita na área, que faz divisa com o Paraguai. Soldados do Exército paraguaio e membros da defesa sanitária do país vizinho estão percorrendo a fronteira para impedir o trânsito de bovinos e derivados na divisa com o Brasil.

Educação sanitária é a arma do Paraná

O potencial do setor agropecuário do Paraná e as ações praticadas pela Secretaria da Agricultura foram apresentados na Escola de Governo de ontem pelo secretário da Agricultura em exercício, Newton Pohl Ribas. Ele destacou os vários programas do governo do Paraná, desenvolvidos pela Secretaria da Agricultura, entre eles, o Programa Segurança Alimentar que visa promover a saúde animal e vegetal de forma sustentável.

Ribas ressaltou as ações da Secretaria para manter o Estado livre da febre aftosa. ?Não vamos segurar vírus com barreiras ou ações policiais. O vírus não respeita nenhum tipo de bloqueio. O que vai nos ajudar nessa batalha contra a ameaça da aftosa é a educação sanitária. É este o compromisso da secretaria juntos aos produtores do Estado?, afirmou. Ribas elogiou a atuação da Secretaria da Comunicação no trabalho de conscientização dos criadores e da sociedade em geral na luta contra a aftosa.

Ele ainda destacou o sistema informatizado de vigilância sanitária, o controle do trânsito animal e a campanha de vacinação contra a febre aftosa realizada em duas etapas no Paraná. Sobre os esforços de combater o vírus, Ribas falou da importância do Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Estado do Paraná (Fundepec). ?Hoje, no Fundo, existem R$ 20 milhões que podem ser usados no combate à aftosa, caso seja necessário?, afirmou.

Potencial

No ano passado, o Valor Bruto da Produção Agropecuária do Estado somou R$ 29,3 milhões. Apesar de ocupar apenas 2, 3% do território brasileiro, o Paraná responde por 20% do total produzido de grãos no País. Na safra 2004/2005, o Paraná colheu 22,2 milhões de toneladas. Além disso, responde por 8% da produção agropecuária brasileira. O Paraná também é o segundo maior exportador nacional. O Estado possui 350 mil propriedades. Segundo Ribas, 86% delas possuem menos de 50 hectares. ?No Paraná, prevalece a agricultura familiar?, concluiu.

Agricultura familiar

Ribas destacou os recursos destinados à agricultura familiar do Paraná. No ano passado, foram colocados à disposição do Fundo, através do orçamento do Estado, R$ 2 milhões, que permitiram empréstimos de R$ 20 milhões. O recurso beneficiou 4 mil famílias. Este ano, o governo do Estado repassou R$ 4 milhões para possibilitar empréstimos de R$ 40 milhões, que beneficiaram 10 mil famílias. Para 2006, o governo do Estado comprometeu-se em repassar outros R$ 8 milhões, que vão permitir financiamentos de até R$ 80 milhões. Com isso, 13 mil famílias devem ser atendidas.

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