Se a situação já não era boa para os pecuaristas no ano passado – por conta das sucessivas quedas no preço da arroba do boi -, o cenário conseguiu ficar ainda pior em outubro, quando foi confirmado o primeiro foco de febre aftosa no Mato Grosso do Sul, no município de Eldorado, e, em seguida, a suspeita de quatro focos no Paraná. Estava formado o cenário para uma das piores crises do setor.
Passados cinco meses, o Estado acumula perdas de pelo menos US$ 117 milhões, ou R$ 251,55 milhões. É o montante que o Paraná deixou de exportar em carnes bovina, suína e de frango nesse período, segundo informações do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne-PR). Ao todo, 56 países deixaram de comprar carne do Estado, incluindo os que embargaram as compras não oficialmente.
Do total que o Paraná deixou de exportar desde outubro, US$ 25,7 milhões se referem à carne de frango – com o embargo apenas da Rússia -, US$ 63,9 milhões de carne suína e US$ 27,4 milhões da bovina. "São valores que o Estado não recupera mais", explicou o assessor econômico do Sindicarne-PR, Gustavo Fanaya.
Exportando menos, os frigoríficos tiveram que demitir. Segundo levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, o setor, que vinha mantendo saldo positivo de 100 a 200 empregos por mês, começou a desacelerar em outubro, quando surgiu a suspeita da doença no Paraná. Naquele mês, a indústria de carnes registrou saldo positivo de 66 empregos. Em novembro, foram 79. Em dezembro, mês em que foi confirmado o primeiro foco da doença pelo Ministério da Agricultura no Paraná, houve saldo negativo de 250 empregos. Em janeiro desse ano, nova queda: de 175 empregos.
Para o supervisor técnico do Dieese-PR, Cid Cordeiro, a notícia positiva é que o setor deve voltar a contratar nos próximos meses. "Talvez o resultado de fevereiro ainda não reflita, mas a partir de março a gente acredita nesta retomada", afirmou Cordeiro. Segundo ele, a chegada da gripe aviária à Europa reduziu drasticamente o consumo de carne de frango. "Mudou o hábito de consumo, e as pessoas estão buscando outros tipos de carne como a suína e a bovina." Além disso, o foco de aftosa na Argentina também restringiu a oferta de carne bovina no mercado internacional, o que pode favorecer as exportações do Paraná mais rapidamente.
O economista Gustavo Fanaya, do Sindicarne-PR, também acredita em uma retomada das exportações em breve, mas não por conta da gripe aviária. "Na Europa, houve queda bastante substancial do consumo da carne de frango, mas surpreendentemente não aumentou o consumo de carne bovina ou suína. O europeu está reticente em migrar para outras proteínas", observou Fanaya. Já o embargo à carne argentina, acredita, pode de fato acelerar a retomada do Paraná nas exportações, antes mesmo do prazo de seis meses exigido pela Organização Internacional de Sanidade Animal (OIE) para que o Estado recupere o status de área livre de aftosa com vacinação. "Os países não precisam esperar este prazo para voltar a comprar do Paraná. Acredito que em três ou quatro meses o Estado volte a exportar", afirmou Fanaya.
