Presidente da estatal Aerolíneas Argentinas, a brasileira Isela Costantini aposta “muito mais” no fluxo de argentinos rumo ao Brasil nos próximos meses do que o inverso. A crise em seu país natal fez a filha de argentinos nascida em São Paulo terminar com as linhas que ligavam Buenos Aires a Brasília e Belo Horizonte, e criar uma de Córdoba para Porto Seguro, que passa a operar em setembro.

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“A expectativa é ainda de ver uma certa recuperação do Brasil nos próximos meses, mas é difícil. A gente está apostando muito mais no turismo do argentino indo para o Brasil do que no do brasileiro vindo para Argentina”, disse ontem ao Estado, após uma entrevista coletiva na sede do ministério da Economia. A previsão é feita apesar da valorização recente do real, que faz os preços no Brasil já não serem tão atrativos.

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Isela, que presidia a General Motors local até ser chamada para a equipe de Mauricio Macri logo após a eleição de dezembro, mostrou-se otimista com a meta de terminar o ano com um déficit de “só” US$ 266 milhões, bancado com subsídios. No início do ano, sua equipe chegou a conclusão de que a necessidade de caixa para 2016 seria de US$ 1 bilhão.

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Com dificuldade para demitir em massa, em razão da força dos sindicatos do setor e do desgaste político, sua equipe buscou alternativas. “Vimos que a capacidade da Aerolíneas de cortar era muito mais limitada do que a de voar mais. Maximizamos os recursos, usando mais os aviões”, disse Isela, que estudou comunicação em Curitiba e fez pós-graduação nos EUA até chegar à Argentina.

Outras medidas tomadas para enxugar a estatal foram cortar em 30% os gastos operacionais e conseguir financiamentos a juros mais baixos. A conclusão da compra de sete aeronaves – três Airbus e quatro Boeings – foi feita com taxa de 6,2%, enquanto até dezembro a empresa não conseguia por menos de 13%. Segundo o novo governo, isso é reflexo da melhor imagem internacional. “Com isso economizamos US$ 11 milhões”, calculou Isela.

Outro fator importante para reduzir custos foi afinar a parceria com a Gol. “É uma relação em que a gente compartilha quais são as rotas onde eles estão tendo dificuldade e aquelas em que nós temos, vendo como se pode criar certa sinergia.”

Os argentinos atravessam uma recessão mais moderada do que a brasileira, com previsão de encolhimento do PIB de 0,8% a 1,5% este ano. Segundo ministro dos Transportes argentino, Guillermo Dietrich, que também participou da entrevista, o país não está em crise. Ele citou o crescimento de 13% no número de passageiros transportados em julho pela Aerolíneas como exemplo e afirmou que a Latam também obteve este porcentual no país.

Em julho de 2015, uma série de paralisações fez a pontualidade cair a 52%. Este ano, chegou a 82%. Questionado se o governo pensava em buscar investidores privados para a empresa, Dietrich disse secamente que não. A manutenção da Aerolíneas como estatal foi uma das promessas de Macri, que já defendeu sua privatização. Sobre a possibilidade de emitir bônus no mercado externo, ele disse que não há possibilidade no curto prazo.

A possível entrada de empresas de baixo custo no país é considerada saudável por Isela. A executiva acredita que o fato de a maior parte de sua equipe vir da iniciativa privada a deixa mais preparada para a competição – mesmo que o plano seja zerar o déficit em quatro anos. Apenas para o BNDES a Aerolíneas deve US$ 420 milhões.

O principal objetivo do governo é dobrar os voos internos. Hoje, há 36 destinos nacionais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.