ressionados pela alta de custos e pela evasão de alunos, muitos aeroclubes e escolas de aviação espalhados no Brasil sentem o peso da crise econômica. O preço maior da hora de voo fez com que muitos frequentadores desistissem ou adiassem o sonho de ser piloto. O número de licenças emitidas para pilotos de todas as categorias somou 4.921 em 2015, 23% a menos do que o registrado há dois anos, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Os aeroclubes buscam alternativas para sobreviver – mas nem todos conseguem encontrá-las.
A crise afetou as escolas de aviação de três formas. Assim como as companhias aéreas, elas têm custos em dólar, como a gasolina de aviação e a manutenção dos aviões, que têm peças cotadas na moeda americana. O segundo impacto foi o da retração da renda. “Tivemos alunos que pararam o curso porque o pai perdeu o emprego”, disse Nelson Riet, um dos diretores do Aeroclube do Rio Grande do Sul. O terceiro golpe foi a redução do próprio setor aéreo. “Muitos alunos desistem de fazer o curso porque o mercado não está contratando agora”, afirmou o presidente do Sindicato Interestadual das Escolas de Ensino da Aviação Civil, Juan Ibañez.
O custo de formação de um piloto comercial, que forma profissionais habilitados a trabalhar como copiloto em uma companhia aérea, é de cerca de R$ 100 mil. A grande maioria dos interessados paga do próprio bolso. O governo lançou em 2010 um programa de incentivo para pilotos, com 213 bolsas para piloto privado e comercial. A segunda edição do projeto, de 2015, teve só 55 vagas.
Ibañez explica que a crise atingiu de forma generalizada os aeroclubes. “O custo fixo é muito alto. Se há uma queda no volume de receita, há problemas de caixa”, disse. Assim como as empresas aéreas, os aeroclubes foram atingidos em cheio pelo reajuste do combustível, ressaltou.
Alguns não resistiram. Só em Santa Catarina pelo menos dois aeroclubes fecharam as portas recentemente. O de Lages, na serra catarinense, completou 73 anos antes de ser extinto no ano passado. O de Joinville, no norte do Estado, fechou em 2014, no ano em que registrou 75 anos.
Alternativas
Entre os que estão operando, o jeito foi fazer ajustes. No Aeroclube de São Paulo, localizado no Campo de Marte, o custo para manter a escola subiu 8% este ano. Mesmo assim, o aeroclube segurou os preços, para não afugentar os alunos. “Apertamos a margem, mas não ficamos no vermelho”, afirmou o presidente do aeroclube, Francisco Souto.
Com essa estratégia, o aeroclube conseguiu até aumentar o número de alunos no curso prático. Neste momento, são 455 alunos em formação, ante 415 de maio de 2015. “Muita gente daqui que voava no interior fez as contas e viu que não vale a pena (procurar preços menores). Além de não gastar com deslocamento, nossa frota é mais moderna. E São Paulo tem restrições no sistema aéreo, o que faz os alunos saírem daqui mais experientes”, afirmou.
No curso teórico, no entanto, que é a primeira etapa da formação do piloto, o aeroclube paulistano sentiu a crise. A previsão é de queda de 11% no volume de alunos em 2016.
Em Araraquara, o aeroclube tomou uma decisão diferente. A instituição repassou aos alunos o aumento do combustível e seu volume de voos caiu pela metade. O aeroclube também se desfez de seis de suas dez aeronaves. “Tivemos de reduzir nosso tamanho para sobreviver”, disse a presidente do aeroclube Sandra Meyer. Muitos alunos que já tinham pagado pela hora de voo estão sendo encaminhados para outras escolas. O motivo é que alguns deles queriam fazer cursos para aviões que não estão mais disponíveis na frota do aeroclube.
Crise antiga
Antes mesmo de a crise afetar em cheio a aviação, alguns aeroclubes já passavam por dificuldades. No passado, o segmento recebia auxílio financeiro do governo para a aquisição de aeronaves, que entendia que a formação de pilotos era estratégica para o Brasil. A prática foi abandonada depois do fim da ditadura militar, e muitos aeroclubes entraram em decadência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.