Depois de ter sido reestruturado após ser alvo de investigações em 2015, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) volta a passar por incertezas. Advogados pediram a suspensão dos julgamentos do conselho depois da criação de um bônus de eficiência para auditores fiscais, calculado com base na arrecadação de multas aplicadas pela Receita Federal.

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No Ministério da Fazenda, há preocupação de que isso leve a uma nova paralisação nas atividades do conselho, que teve os julgamentos suspensos por oito meses no ano retrasado.

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Um ofício foi enviado ao conselho pelo Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (Cesa) pedindo que os julgamentos sejam suspensos e que seja feita uma análise do impedimento dos conselheiros indicados pelo Ministério da Fazenda. Metade do Carf é formada por conselheiros que representam a Fazenda Nacional, necessariamente auditores fiscais, que também passarão a receber um bônus de eficiência que aumenta conforme cresce o pagamento das multas aplicadas pelo fisco. “A estrutura atual de cálculo e pagamento do bônus poderá ensejar a conclusão de que os conselheiros representantes da Fazenda Nacional julgarão a validade da exigência de multas cujo valor acabará repercutindo no montante de sua própria remuneração”, afirma a carta.

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O Cesa sugere que seja criada uma forma alternativa de remuneração dos conselheiros indicados pela Fazenda, ou mesmo seja feita uma “reformulação geral do órgão”, com “amplo e transparente” debate com a sociedade. O texto observa ainda que o prosseguimento dos julgamentos poderá levar a uma onda de ações na Justiça questionando as decisões do Carf. Em fevereiro, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) decidirá se cabe ação judicial contra o bônus de eficiência.

O Cesa alega ainda que o bônus traria um “interesse econômico” aos conselheiros que seriam, por isso, impedidos de julgar os casos. Por conta disso, o Carf se apressou na quarta-feira, 18, e divulgou uma portaria esclarecendo que a hipótese de impedimento econômico e financeiro previstas no regimento interno do Cade se aplicam apenas à outra metade dos conselheiros, que é indicada por representantes dos contribuintes. Devem se declarar impedidos, por exemplo, conselheiros que trabalhem ou prestem algum tipo de assessoria para as empresas julgadas.

De acordo com o Carf, eventual impedimento de conselheiro representante da Fazenda Nacional existe apenas em casos em que o indicado participou da investigação que levou à multa aplicada pelo fisco ou quando há relação de parentesco com os recorrentes.

A criação do bônus para os auditores fiscais foi sacramentada pelo governo, após muita negociação e paralisações da categoria. A categoria foi contemplada com um aumento salarial de 21,3% até 2019, além da criação do adicional de eficiência. Em janeiro e fevereiro, os auditores receberão R$ 7,5 mil a título do bônus. A partir de fevereiro, o valor será de R$ 3 mil e variará de acordo com o cumprimento de metas, que serão estabelecidas pelo governo.