O Brasil está prestes a ter uma posição de destaque como patrocinador do Prospectors and Developers Association of Canada (PDAC), feira anual de exploração mineral e mineração que ocorre em Toronto, no Canadá, entre 3 e 6 de março próximos. O objetivo brasileiro é atrair investidores e alçar voos maiores para o setor no mercado internacional, mas os recentes desdobramentos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) deve demandar a atenção do governo, que será cobrado, disse o presidente da comissão organizadora da missão brasileira ao PDAC e diretor executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb), Roberto Xavier. Segundo a organização, a Vale é uma das empresas confirmadas no evento.
“Em primeiro lugar, o governo estará representado lá”, disse Xavier, sinalizando a participação do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e representantes da Agência Nacional de Mineração (ANM). Xavier lembrou que um dos painéis será focado na mineração brasileira. “Nessa apresentação, certamente o governo não vai se furtar a mencionar questões do tipo de Mariana e Brumadinho e o que o governo tem feito para mitigar essa tragédia. Tanto do lado humano quanto do lado da legislação. Então, certamente perguntas vão ocorrer. E aí estará o espaço apropriado para isso. O governo vai estar exposto para discutir”, defendeu, em entrevista ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Xavier, entretanto, disse não acreditar que a participação do País no evento será comprometida pelo rompimento da barragem de Vale. “A mineração como um todo no Brasil não se resume à questão de Brumadinho. Certamente é algo muito importante e que revela que temos de melhorar e muito a questão do que fazer com as bacias de rejeito de minério. Mas isso não impacta a questão de investimentos.”
O diretor executivo da Adimb sinalizou que mudanças recentes fortaleceram o setor, como a própria criação da ANM (em julho de 2017 pelo então presidente Michel Temer) e mudanças na Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM, espécie de royalties do setor). Questionado sobre desafios para o futuro, Xavier disse que há uma enorme janela de investimentos em tecnologia para ajudar as empresas a explorarem os minerais da melhor forma possível. Na visão dele, entretanto, os governos também precisam fazer sua parte na fiscalização.
“Não adianta ter tecnologia, que é algo que nós temos, se a fiscalização também não funciona. Boa tecnologia eu acho que existe. Mas também uma boa fiscalização é necessária. A mineração não pode ser sustentável apenas economicamente, ela tem de estar lado a lado com a responsabilidade ambiental”, defendeu.
Oportunidades
Xavier destacou que, atualmente, a área ocupada no território nacional com mineração é de 0,5%. Na contramão, acrescentou, ela contribuiu com cerca de 30% do saldo da balança comercial do País. Em termos de PIB, a indústria extrativa – considerando também petróleo e gás – contribuí com 4,2%. “Se você retira petróleo e gás, o PIB da indústria extrativa de mineração é de 1,4%”, explicou.
“Apesar de a mineração contribuir com 30% da balança, o Brasil não pode ser considerado, quando comparado com Chile, Canadá, Austrália, como um país mineiro”, argumentou, destacando o potencial de crescimento, não apenas nos ferrosos. “Ainda há uma avenida enorme para exploração mineral no País. Muito a ser avaliado e a ser descoberto”.