O relatório que trata da definição do padrão de TV digital a ser adotado no Brasil teve o prazo de entrega prorrogado por mais 30 dias. A alteração da data está em decreto presidencial publicado ontem no Diário Oficial da União.
Apesar do adiamento, o presidente do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), Hélio Graciosa, afirmou que o documento será entregue até amanhã ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, conforme estabelecido inicialmente.
De acordo com Graciosa, o ministro ?está com pressa?. Há uma semana, Hélio Costa disse que a implantação do modelo deveria ser imediata. Segundo ele, era necessário estabelecer um cronograma para que o assunto não ficasse apenas no âmbito da discussão. O CPqD é responsável, por meio de um convênio firmado com o ministério, por aprofundar os estudos sobre o melhor modelo de TV digital para o Brasil.
Já o presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert), José Inácio Pizani, acredita que a decisão deva ser tomada logo. ?O Brasil não tem tempo para esperar?, disse Pizani. Ontem, a Câmara dos Deputados abriu o plenário para debater com empresários, comunicadores e cientistas a implantação de um modelo de TV digital que seja mais adequado ao País.
Inacessível
Organizações da sociedade civil tem reivindicado mais debates sobre o modelo de televisão digital a ser adotado pelo Brasil. As entidades defendem que, a depender do modelo adotado, o País terá um novo meio de comunicação com tecnologia exclusivamente estrangeira e inacessível para a maior parte da população.
O coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Celso Augusto Schroeder, explica que parte da tecnologia da TV digital poderia ser produzida pela indústria brasileira ou até mesmo pelos centros de pesquisa nacionais, que já vêm se preparando para isso. Na avaliação de Schroeder, o governo cometerá um erro ao adotar, integralmente, um dos três padrões em estudo (europeu, japonês ou norte-americano).
?A TV digital não é só uma questão de melhorar a qualidade da imagem, é um padrão novo de comunicação. É a redefinição de uma cadeia industrial com oportunidade de reavivar a indústria de microeletrônica, tornando o aparelho mais barato?, ressalta o também integrante do Comitê Consultivo do Sistema Brasileiro de TV Digital.
Outra questão levantada por ele é o risco de a nova tecnologia restringir as possiblidades de participação dos telespectadores. Ao escolher um modelo que privilegia uma imagem de altíssima definição, o governo estaria deixando de lado mecanismos de inclusão digital, como o acesso a e-mail pela televisão. O preço do aparelho também se tornaria mais alto, praticamente inacessivel à população. E o número de canais, por causa da qualidade da imagem, ainda precisaria ser restrito, o que impediria organizações sociais de competirem por concessões de canal aberto.
Nacional
No fórum de debates sobre a tecnologia a ser adotada pelo Brasil para a implementação da TV digital, que começou ontem no Congresso Nacional, um dos participantes, o presidente do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), Helio Graciosa, defendeu (em documento que vai entregar ao ministro Hélio Costa) a adoção de um sistema nacional de televisão.
?Podemos ter um sistema que atenda às características brasileiras, com componentes usados em sistemas de outros países?, defende o empresário. O CPqD pesquisa e desenvolve tecnologias para a área de telecomunicações há quase 40 anos. O foco principal de trabalho é a telefonia móvel e fixa. A empresa busca soluções para que o celular possa se tornar, por exemplo, um veículo capaz de transmitir programação audiovisual.