Adauto vê quadro inflacionário mais severo do que diz BC

O quadro inflacionário, na prática, é mais severo do que demonstraram a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado em setembro. A avaliação é do economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima. Ele conversou com o Broadcast ao Vivo, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, sobre as expectativas em relação à decisão do Copom sobre a Selic, que deverá ser anunciada pelo BC nesta quarta-feira, 29, à noite.

Apesar de sua avaliação em relação ao quadro de severidade da inflação, o economista não acredita que a autoridade monetária vá mexer na taxa nominal de juros (Selic) hoje, porque desde a última reunião do colegiado, no quadro avaliado pelos diretores para terem mantido a taxa de juros em 11% ao ano, a única mudança se mostrou pela depreciação cambial.

“Com a recente depreciação do real, não se pode descartar aumento da Selic em dezembro”, ponderou o chefe do Departamento Econômico da Western Asset, embora acredite que o mais provável será o BC deixar para mexer na taxa de juros mais para o começo do ano que vem. Isso porque, de acordo com Lima, o BC deverá esperar para ver quais serão as diretrizes econômicas que o governo delineará no transcorrer do segundo mandato de Dilma Rousseff, reeleita no último domingo. “Com a indefinição na Fazenda, é mais provável uma mudança na Selic só em 2015”, disse.

Perguntado se a ata da reunião do Copom ontem e hoje, que será divulgada na próxima quinta-feira, 6 de novembro, não deveria reforçar mensagem dada recentemente pelo diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo, segundo o qual a autoridade monetária agirá caso ache necessário, Adauto tergiversou. Disse que dentro do BC, embora Hamilton tenha uma postura mais ‘hawkish’ sobre inflação, a mediana das opiniões da diretoria não vê essa necessidade.

“A ata poderá fazer alguma menção ao deslocamento dos ativos e à resistência da inflação”, disse, acrescentando, em tom crítico, que não é de agora que a inflação tem se mostrado resiliente. “O BC tem errado sistematicamente nas projeções, inclusive sobre a direção da inflação”, apontou Lima. E isso, na avaliação dele, tem se dado muito em função de a autoridade monetária ter deixado um pouco de lado as expectativas de inflação, pela não captação de choques por parte dos modelos econométricos usados pelo BC e pelos ruídos que as politicas fiscais e parafiscais inseriram nas projeções.

Ainda de acordo com Lima, o papel principal do BC se perdeu nos últimos anos e um dos desafios do governo é redirecionar o objetivo da autoridade monetária, que hoje cumpre um duplo mandato que consiste em manter a inflação sob controle e criar condições para assegurar o crescimento. De acordo com o economista, o duplo mandato do BC, como ocorre em outros países, não é errado, mas não condiz com os escritos que determinam o papel de um BC num regime de metas de inflação.

Outro ponto defendido pelo economista durante a entrevista é que “o BC também erra ao avaliar que a política fiscal caminha para a neutralidade”. Segundo Lima, o BC fez esta avaliação enquanto a política fiscal sempre caminhou para o expansionismo.

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