A China é o país para onde o Paraná mais exporta produtos. Agora, esse comércio será ampliado com os acordos de cooperação assinados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da China, Hu Jintao. A avaliação foi feita pelo governador Roberto Requião, que participou com Lula e o presidente chinês de um jantar oferecido em Brasília, na sexta-feira.
Para Requião, o fato de o Paraná não exportar soja transgência vai ajudar na ampliação do comércio bilateral. "Os chineses fazem questão de comprar soja convencional, o que vai impulsionar nosso comércio", avaliou ao destacar que o Paraná terá muito a ganhar com o maior mercado consumidor do mundo, onde vivem mais de 1 bilhão de pessoas.
Levantamento da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do governo federal apontam que só nos primeiros nove meses do ano, as exportações do Paraná aos chineses chegaram a US$ 1,017 bilhão, resultado 61% maior que o verificado no mesmo período do ano passado. Já as importações ficaram em US$ 127 milhões, valor 42% superior ao dos primeiros nove meses de 2003. O saldo da balança comercial favoravelmente ao Paraná está em US$ 889 milhões.
Entre os produtos mais exportados pelo Paraná no período, a soja aparece em primeiro lugar. Em seguida, estão óleo bruto de soja, óleo refinado de soja, tratores, motores para veículos, bombas injetoras de combustível, papel, madeira, frango e couro. Já os produtos mais importados são tecido em poliéster, produtos químicos, lâmpadas, fibras, produtos químicos, confecções, além de aparelhos de som e vídeo.
Os acordos bilaterais assinados pelos governos brasileiro e chinês vão ajudar o Paraná sobretudo nas exportações de soja, frango e papel. O Paraná é o maior produtor e exportador brasileiro de frango e papel. Na produção de soja, o Estado ocupa a segunda posição nacional, atrás apenas de Mato Grosso. No entanto, o Porto de Paranaguá sozinho responde por 30% das exportações nacionais de soja, grande parte com destino à China.
Desenvolvimento e justiça
Antes de propor um brinde ao presidente da China, Hu Jintao, durante jantar oferecido pelo governo brasileiro no Palácio do Itamaraty, na sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em discurso, que "a parceria estratégica sino-brasileira está fundamentada na crença de que temos interesse comum na busca de um mundo multipolar e pluralista".
Lula destacou estar convencido de que "somente através do diálogo e da cooperação poderemos responder ao desafio de promover a paz e combater o terrorismo, de preservar o meio ambiente e assegurar o desenvolvimento e o bem-estar para todos".
E encerrou o discurso afirmando que "queremos construir uma arquitetura mundial que privilegie o entendimento, a justiça social e o respeito entre os povos. A China e o Brasil mantêm uma cooperação horizontal modelar num sistema internacional marcado pela desigualdade. Essa relação nos dá legitimidade para, juntos, promovermos uma agenda internacional que favoreça a distribuição eqüitativa de poder e de recursos no cenário internacional. Somente assim estará assegurado o desenvolvimento social e econômico de nossos povos".
Hu Jintao pediu mais "laços de amizade"
O presidente da China, Hun Jintao, conversou ontem, durante 20 minutos, com cerca de 110 representantes da comunidade chinesa residente no Brasil. Entre os convidados para o encontro no Hotel Blue Tree estavam funcionários da embaixada, empresários e jornalistas. O acupunturista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gu Hanghu, participou da reunião. Segundo ele, Jintao pediu aos chineses que estreitem os laços de amizade com os brasileiros e ajudem a China a ampliar as relações com o País nos campos comercial e tecnológico.
"Ele disse que os chineses que moram no Brasil precisam fazer mais amizade para ser uma ponte entre os dois países", contou Hanghu. "O presidente também elogiou muito a recepção que teve aqui, disse que foi boa. Achou o brasileiro muito amável. Ficou feliz."
Funcionária de uma empresa de telecomunicações em Brasília, a chinesa Flora Fany saiu do encontro "inspirada". "O presidente falou sobre o desenvolvimento da China. Foi muito simpático", revelou Flora, que mora há seis meses na capital brasileira. "Estou gostando muito. O tempo é bom e me sinto segura aqui, não tenho medo de violência."
O empresário do ramo de latas e garrafas Sheun Ming Ling saiu de Porto Alegre, onde mora, para participar do encontro com o presidente do país onde nasceu. Há 50 anos no Brasil, ele criou os quatro filhos e sete netos no Rio Grande do Sul. Para Ling, a união entre brasileiros e chineses trará muito sucesso para os dois lados e para o mundo.
"Essa união vai proporcionar paz e progresso. São dois países em desenvolvimento que não têm vontade de dominar ninguém", aposta o empresário, que ficou admirado com a aparência jovem do presidente chinês. "A China vai investir muito no Brasil, principalmente em obras. Vai comprar soja, aço, alimentos e carnes."