O governo alemão e a UE alertam os gregos de que o acordo de ontem e o dinheiro enviado não podem dar a sensação de que a crise da dívida acabou. Enquanto o governo grego insistia em comemorar o fim do drama de meses, as advertências eram de que essa é a última chance que o bloco estava dando à Grécia para continuar na zona do euro.
“A Grécia tem uma clara oportunidade para se recuperar agora. Mas a precondição é de que use essa oportunidade, que é única”, disse o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaueble. “Seria um grande erro dar a impressão de que a crise foi solucionada.”
O alemão, que por meses defendeu o calote para superar a crise, ainda ironizou o fato de que muitos dos governos que ontem comemoraram o acordo eram fortes opositores de um calote parcial. “Algumas das pessoas que dizem que estão felizes hoje estavam dizendo coisas bem diferentes há dois anos.”
Os alemães queriam que parte do peso do resgate recaísse sobre o setor privado – na forma de um calote parcial. Assim, reduziriam a quantia de dinheiro público que a maioria da Europa teria de injetar num resgate. Mas franceses, amplamente expostos à dívida grega, resistiam.
Schäuble enviou assim um recado claro ao presidente francês Nicolas Sarkozy, que por meses resistiu à ideia do calote. Ontem, seu discurso era bem diferente e optou por usar o dia para mostrar que a gerência da crise está funcionando. Em ritmo de campanha eleitoral, Sarkozy destacou sua “satisfação com a solução para a crise grega”: “Estou feliz. Hoje, o problema está solucionado e uma página na crise financeira está sendo virada”.
Em Atenas, o governo optou por indicar que a aprovação dos credores e da UE era “um voto de confiança” na capacidade do país de lidar com suas reformas. “Vivemos um momento histórico”, declarou o porta-voz do governo grego, Pantelis Kapsis.
Em Bruxelas, apesar do sinal verde, o recado foi de que a pressão será mantida, diante do histórico dos gregos em não adotar o que prometem. “Espero que as autoridades gregas mantenham seu compromisso com o programa de ajuste econômico”, declarou o comissário de Assuntos Econômicos da UE, Olli Rehn.
Nos últimos dois anos, várias leis exigidas pela UE jamais entraram em vigor, a redução no número de servidores públicos não ocorreu e o processo de privatização não saiu do papel. A preocupação em Bruxelas é de que, com eleições em abril, a Grécia volte a adiar as reformas.
No FMI, a diretora-gerente, Christine Lagarde, também foi menos entusiasmada que seu colega francês. Segundo ela, o acordo com os bancos foi “um passo importante” para a retomada do crescimento da economia grega. Mas evitou superlativos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.