O Brasil propôs formalmente à Argentina o livre-comércio no setor automotivo nessa quinta, 18, e obteve um sim, mas sem um prazo concreto. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, disse esperar que isso ocorra em menos de 5 anos. Francisco Cabrera, ministro da Produção argentino, porém, falou apenas em alcançar a meta “o mais rápido possível”, após passos para complementar as cadeias de produção.
O consenso sobre a necessidade de liberar o comércio marca uma mudança do governo de Mauricio Macri em relação ao de Cristina Kirchner. “Tive boa relação com a administração anterior, mas agora notamos sinais concretos favoráveis ao comércio”, disse Monteiro.
A troca na Casa Rosada foi apontada indiretamente pelo ministro brasileiro como uma das razões que o fazem acreditar que uma ideia que se arrasta há décadas desta vez pode sair do papel. “Muitas vezes, os acordos não ocorrem por falta de coincidência em política macroeconômica. A Argentina dá sinais de que buscará uma política macroeconômica convergente com o padrão”, acrescentou. Outro motivo dado por ele para apostar em um avanço é a multiplicação dos negócios entre países com acordos comerciais, algo que o Mercosul respondeu com “imobilismo”. “Se não mudarmos, morremos.”
O ministro advertiu contra o risco de se esperar muito. “É bom lembrar que, no longo prazo, estaremos mortos. Trabalhamos com um horizonte de médio prazo, mas há condições que precisam ser criadas para chegarmos ao acordo de livre-comércio. Elas passam por integração produtiva e regimes que propiciem investimentos equilibrados”, disse.
Pelo modelo atual do pacto automotivo, que vence em 30 de junho, a cada dólar de autopeças e carros importado da Argentina, a indústria automobilística brasileira pode exportar ao parceiro do Mercosul US$ 1,5 em produtos sem pagar imposto de importação. A intenção do Brasil é mudar essa proporção e a duração do pacto.
O ministro brasileiro acrescentou que há ambição de construir uma plataforma regional para chegar a outros mercados, como a Aliança do Pacífico. O Brasil fechou um acordo automotivo de livre-comércio com o Uruguai em dezembro e ele passou a valer em janeiro.
Condições
Na sede do ministério da Produção argentino, em entrevista ao lado de Monteiro, Cabrera evitou comprometer-se com um prazo, mas defendeu com ênfase a liberação do mercado. “Esperamos que seja o mais rápido possível, mas temos de alcançar uma série de condições”, disse.
Entre os requisitos, ele citou maior integração produtiva e a promoção dos investimentos do Brasil. A Argentina enfrenta um déficit na balança comercial do setor. Questionado se o país buscaria outros clientes para compensar as perdas com a crise econômica brasileira, Cabrera afirmou que 50% da capacidade de produção do Brasil hoje está ociosa, mas salientou que não tomaria medidas de acordo com a conjuntura atual.
Cabrera argumentou que uma das medidas mais eficientes para conseguir uma integração, “uma vez que as empresas buscam fabricar o máximo possível”, é o uso de plataformas exclusivas ou especializadas em cada país. “A produção de diferentes modelos no Brasil e Argentina é importante. Quando há tendência macroeconômica que dificulta o comércio internacional, ter diferentes modelos ajuda.”
A Associação de Fabricantes de Automotores da Argentina (Adefa) não se manifestou oficialmente sobre a reunião. Internamente, a promessa mútua de liberação total do comércio foi recebida como algo ainda distante, diante de uma provável renovação do pacto automotivo por 2 anos, em uma configuração parecida com a atual.
Outro tema da reunião entre Monteiro e Cabrera foi a negociação de um pacto com a União Europeia. Ambos previram que a troca de ofertas entre os blocos ocorrerá no primeiro semestre. Foi decidida a reinstalação de uma comissão bilateral de comércio, que se encontrará na segunda quinzena de março, em Brasília, e a cada três meses. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.