A ação da ALL (América Latina Logística), maior operadora de ferrovias da América Latina, estreou ontem na Bovespa a pleno vapor. No primeiro negócio, o papel disparou para R$ 50,50, uma valorização de 8,6% em relação ao preço fixado na oferta pública (R$ 46,50). Mas não parou por aí. Na máxima, já atingiu R$ 50,99 – alta expressiva de 9,6%.
A empresa é a terceira a listar ação na bolsa neste ano. Anteontem, foi a Gol. No fim de maio, a Natura quebrou o jejum da Bovespa, onde não ingressa uma nova empresa desde fevereiro de 2002.
A ALL recebeu autorização para distribuir cerca de R$ 588,225 milhões – abaixo do R$ 1 bilhão captado pela Gol. A ALL deve usar o dinheiro para tocar seu projeto de expansão, que inclui mais locomotivas, vagões, caminhões e centros de armazenagem e distribuição. A empresa terá 27% do seu capital em poder do mercado.
Para os funcionários da ALL que aderiram à oferta, os ganhos com os papéis são maiores, pois eles tiveram direito a um desconto de 10% sobre o preço do lançamento da ação. A demanda pelos papéis superou em quase sete vezes o tamanho da oferta. Coordenaram a operação os bancos Merrill Lynch e Pactual.
A oferta da ALL seguiu o modelo da Gol e lançou no mercado apenas ação preferencial (PN). Esse tipo de papel dá ao seu dono apenas o direito de receber dividendos antes dos donos das ações ordinárias (pertencentes aos controladores da empresa).
Como a Gol, a ALL ampliou o conceito de ação PN e deu ao novo acionista o direito a voto em alguns temas da companhia e garantiu 100% do chamado “tag along”. Ou seja, se vendida a empresa, o minoritário recebe por sua ação o prêmio integral pago ao controlador. O comum é pagar só 70% do valor. Mas há cada vez mais investidor preferindo ter ação ordinária, pois a ON dá mais segurança nesses casos.
Rating pode subir, mas há riscos
Apesar de bem menos conhecida do que a Gol, a ALL é uma empresa que está colhendo elogios de analistas. Em maio passado, a agência americana de avaliação de risco S&P (Standard & Poor?s) elevou o “rating” (nota de crédito) da ALL e ainda atribuiu uma “perspectiva positiva”, ou seja, a nota pode ser elevada de novo.
A agência citou que a nova nota refletiu a “melhora consistente dos indicadores de crédito da empresa nos últimos anos por conta da elevação de sua rentabilidade operacional e do fortalecimento de sua liquidez e de sua estrutura de capital”.
Mas a S&P minimizou apontando alguns riscos ao negócio da ALL: a concorrência com outros tipos de transporte, a pouca diversidade das cargas transportadas (ainda bastante focada em commodities agrícolas), uma carteira limitada a poucos clientes e a disposição de investir bastante nos próximos anos, o que tende a elevar endividamento.