Aço vira questão de governo na Vale do Rio Doce

Nas raras vezes em que aceita falar de si mesmo, Roger Agnelli costuma puxar do fundo do baú um conselho do pai. “Ele sempre dizia: Peça a Nossa Senhora, mas não corra atrás para ver só o que acontece.” O presidente da Vale diz ser devoto sincero de Nossa Senhora, para quem reza todo dia.

Poucos executivos souberam aproveitar tão bem quanto ele a fase de prosperidade da economia global. Entre 2001, quando ele assumiu o comando da Vale, e 2008, a produção de minério de ferro dobrou, o lucro líquido médio anual subiu de US$ 994 milhões para US$ 5 bilhões e a Vale pulou do quinto para o segundo lugar no ranking mundial das mineradoras.

Agora, Agnelli precisará mostrar habilidade para tocar a companhia também nas condições adversas da crise. Com uma dificuldade a mais: lidar com os interesses políticos que envolvem a empresa. Privatizada em 1997, ela continua ligada ao governo por meio do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dois dos principais acionistas da mineradora. É o que acontece neste momento.

A Vale é uma mineradora, mas vem sofrendo pressão do governo para investir em siderurgia. Embora grupos genuínos do setor, como Usiminas e CSN, tenham adiado seus projetos em razão da crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou da Vale, em público, a construção de usinas siderúrgicas no Espírito Santo e no Pará. Semana passada, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse que o governo está preocupado com os projetos siderúrgicos da mineradora. Aço, na Vale, virou questão de governo.

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