A inflação mais intensa nos preços industriais no atacado (de 0,53% para 1,64%) impulsionou a arrancada da segunda prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) em fevereiro, que subiu 1,10%, após avançar 0,51% em igual prévia em janeiro.
Segundo o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, aumentos de preços em alimentos processados, combustíveis e materiais para manufatura comandaram o cenário inflacionário no setor industrial atacadista.
Segundo ele, a taxa de elevação de preços dos alimentos processados mais que dobrou entre a segunda prévia de janeiro e a segunda prévia de fevereiro, ao passar de 2,02% para 4,36%.
Produtos de peso na inflação atacadista voltaram a subir de preço, após registrarem deflação no primeiro mês do ano. É o caso de carne bovina (de -3,90% para 1,37%) e leite industrializado (de -1,47% para 3,38%).
Outro ponto destacado pelo economista foi o comportamento de preços de combustíveis, principalmente os relacionados à cana-de-açúcar. Atualmente, a cana está em período de entressafra, o que tem diminuído a oferta do produto e seus derivados no mercado.
Isso prejudica a produção de álcool, visto que reduz a oferta de matéria-prima para a elaboração do produto. O reflexo deste cenário é visível nos preços em aceleração de álcool etílico anidro, de 3,21% para 16,56%; álcool etílico hidratado, de 4,84% para 13,74%; e até mesmo da gasolina, de 0,48% para 1,07%, que tem 20% de álcool em sua formação.
“Também tivemos uma taxa mais elevada de preços em GLP (de 1,81% para 2,32%), por conta de influência do setor de petróleo no mercado internacional”, acrescentou.
Quadros comentou ainda que, em razão de movimentos de reaquecimento na economia doméstica e internacional, os preços dos insumos voltados para a indústria estão subindo. Isso também é perceptível no aumento mais intenso de preços em materiais para manufatura no atacado (de 0,49% para 2,73%).
“Esse movimento de reaquecimento na economia é algo que está acontecendo em escala global, no cenário pré-crise” afirmou, ressaltando que este ambiente de preços mais elevados nos insumos para indústria tem contribuído para elevar a inflação atacadista desde meados de janeiro.
Inflação acumulada
A taxa acumulada em 12 meses até a segunda prévia do IGP-M de fevereiro, de 0,17%, foi o primeiro resultado positivo neste tipo de comparação desde junho de 2009, quando o índice avançava 1,70%, segundo Salomão Quadros.
Ele deu a informação ao comentar sobre as mudanças no cenário inflacionário este ano, em relação ao ano passado – quando todos os Índices Gerais de Preços (IGPs) encerraram 2009 em deflação. Para Quadros, o ambiente de preços este ano está bem diferente.
O especialista comentou que, este ano, a preocupação com o avanço da inflação conta com vários fatores a serem acompanhados de perto, como a perspectiva de reaquecimento da economia elevando preços, por meio de uma demanda mais pressionada.
Ele admitiu que este é um fator a mais a ser levado em consideração pelo Banco Central (BC), em sua decisão de elevar ou não a taxa básica de juros (Selic) na tentativa de conter uma possível influência do avanço da demanda em um cenário de aumento de preços. “É mais um fator de preocupação”, afirmou.
Quanto ao IGP-M fechado de fevereiro, ele preferiu não fazer previsões numéricas sobre o índice. Mas considerou que, provavelmente, o indicador do mês deve encerrar fevereiro com taxa acima da apurada em janeiro, de 0,63%. Hoje, a FGV anunciou a segunda prévia do índice de fevereiro, que subiu 1,10%.