O real apresentou desvalorização de 1,20% esta quarta-feira no mercado de câmbio interbancário, encerrando cotado a 3,76 por dólar para venda. Na quarta-feira, a moeda brasileira fechou em queda de 1%, negociada a 3,72 por dólar. Segundo analistas financeiros, o mercado “continua contaminado” com a demora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em anunciar os nomes de sua equipe econômica.
De acordo com os analistas, o leilão de 150 milhões de dólares de linhas de crédito por parte do Banco Central não aliviou a pressão. Outro fator que contribuiu para o nervosismo do dia foi a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que acontece nos próximos dias 18 e 19.
Os investidores temem “um novo aumento da taxa básica de juros, a chamada taxa Selic, por causa das altas da inflação e do dólar”, disseram os analistas financeiros. Atualmente, a taxa se encontra em 22% ao ano. O risco Brasil sobiu 4,68% para 1.677 pontos.
A notícia sobre o gabinete fez o mercado passar de “cauteloso” a comprador de dólares. De segunda-feira até a manhã de ontem, a maior parte dos investidores estava parada, e a pressão compradora vinha apenas de empresas endividadas que precisam de dólares para pagar contas fora do país.
Agora, essa situação teria mudado. As instituições financeiras retomaram a procura por “hedge” (proteção cambial), o que não acontecia havia mais de um mês. Ou seja: os bancos voltaram a se sentir inseguros e compram dólares para se protegerem de perdas em caso de eventuais solavancos financeiros.
A insegurança vem do mesmo lugar que se tornou a fonte de tranquilidade do mercado no último mês: o PT. Sem o anúncio do gabinete de Lula e, principalmente, da equipe econômica, o mercado foi tomado pela boataria e a especulação.
Agora, em vez de levantar nomes que poderiam suceder Armínio Fraga na presidência do Banco Central, o mercado levanta nomes que já teriam recusado o convite do PT para presidir a entidade.
Entre esses nomes, para o mercado, estaria o do próprio Fraga. A percepção do mercado só piorou depois que Lula e Fraga se reuniram por mais de uma hora no fim da manhã de ontem, supostamente para discutir a transição no BC, e o presidente eleito continuou negando a permanência do economista à frente da entidade monetária.
A impressão deixada no mercado, depois de sucessivas declarações de que Fraga passaria o bastão, foi de que o PT está sem cartas na manga e já teria tentado todos os nomes de sua lista.
Embora no campo ainda dos rumores e da boataria, com a demora do anúncio, essa hipótese ganha fora e começa a preocupar o mercado, detonando o movimento de compra de “hedge” e invertendo a tendência do dólar, que até então era de baixa, com altas pontuais.
O jornalista Ricardo Kotscho, assessor de Lula, disse ontem à tarde que não há data para o anúncio. “Continuamos mantendo os contatos e não temos data para anunciar”, disse Kotscho. Para assumir o governo, em 1.º de janeiro, já com um novo presidente do BC, Lula precisa indicar um nome a tempo de o candidato ser sabatinado pelo Senado, que entra em recesso no dia 15.
O gabinete e a equipe econômica de Lula são vistos como uma radiografia mais precisa de seu governo, após dois meses de discurso alinhado ao mercado que encantou os investidores, mas que ainda precisam se transfigurar em medidas concretas para garantir a calma e o apoio do mercado.