O professor titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Ricardo Abramovay, defendeu hoje no Fórum Social Mundial Temático da Bahia, em Salvador, que o País avance em conjugar crescimento econômico com sustentabilidade ambiental, mas alertou para o risco de criar um forte atraso tecnológico.
Durante o painel “Estratégias de Governança” ele criticou a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o Conselhão, na qual esteve presente o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. “Durante o encontro, me chamou a atenção não ter ouvido as palavras sustentabilidade, mudança climática ou meio ambiente uma única vez”, disse.
O Conselhão é um órgão de aconselhamento da Presidência da República e ontem reuniu alguns de seus representantes, durante o Fórum Social em Salvador, para fazer uma análise de sua atuação desde que foi criado, em 2003, e especialmente durante a crise.
Abramovay alertou que, sem uma política clara de crescimento ligado à sustentabilidade, o Brasil corre o risco de ficar distante dos processos de inovação tecnológica que estão em curso no mundo. “Corremos o risco de construir uma economia com base energética mais limpa que a de outros países, mas fundamentada em produtos que correspondem à retaguarda do sistema industrial contemporâneo e não à vanguarda”. Ele citou o exemplo da Coreia do Sul, que estruturou seu programa de combate à crise baseada em uma “economia verde”. “As Nações Unidas estão alertando para este tema,” lembrou.
O professor da FEA citou alguns passos positivos recentes, como as moratórias da soja e do boi, em que indústrias se comprometeram a não comprar matérias-primas de áreas de florestas devastadas; e o município de São Paulo, que passou a exigir comprovação, nas licitações, de que a carne fornecida não tenha origem em áreas de preservação ambiental. “É preciso que outros setores também sejam pressionados a expor como estão tratando os recursos naturais”, defendeu.
O grande desafio, afirma Abramovay, é compatibilizar desenvolvimento com aumento e distribuição de renda, redução de desigualdade, junto com a manutenção dos serviços ambientais. “Fazer crescer a economia e promover distribuição de renda isso muitos países fizeram, estão fazendo e vão fazer cada vez mais. O grande desafio é saber se isso poderá ser levado adiante em sistemas produtivos capazes de valorizar os ecossistemas.”
Os eventos na Bahia e no Rio Grande do Sul na última semana foram os primeiros de uma série de fóruns que ocorrerão em mais 25 cidades do mundo neste ano, em preparação para o Fórum Social Mundial de Dacar, no Senegal, em 2011.