Da próxima vez que você fizer um saque no caixa eletrônico ou receber o troco de uma compra, antes de guardar as notas na carteira, coloque as cédulas contra a luz por um momento e observe a sua textura. A atitude também vale para os comerciantes, na hora de receber o dinheiro dos clientes. É uma medida simples, mas que pode evitar problemas sérios: o risco de que a nota que você está levando seja falsa nunca foi tão grande. Desde 94, quando o Plano Real foi implantado, o número de notas falsas apreendidas pelo Banco Central (BC) vem aumentando a cada ano. Em 2002, foram 412,4 mil notas – quase o dobro de 97. Este ano, já foram apreendidas 204,7 mil cédulas – 66, 5 mil delas em São Paulo – e 37,6 mil moedas. Somadas, as notas valeriam mais de R$ 6,7 milhões. Desde que o Real começou a circular, R$ 72,7 milhões em dinheiro falso já foi parar no Banco Central. A nota mais “perigosa” é a de R$ 50. Foi uma inovação dos falsificadores neste ano, pois eles resolveram deixar de investir em notas de R$ 10 e se concentraram na de valor maior – que passou a encabeçar o ranking de apreensões. “Descobriram que o benefício é maior. O custo para falsificar a de R$ 10 e a de R$ 50 é igual. E a de R$ 100 não vale a pena porque tem pouca circulação”, explica José dos Santos Barbosa, chefe do Departamento do Meio Circulante do BC. Não é difícil, porém, descobrir se uma nota é falsificada ou não. “Pelo menos 60% delas não têm marca d’água. Se as pessoas perdessem dois segundos e colocassem a nota contra a luz, resolveriam grande parte do problema”, diz. A atitude não serve apenas para evitar constrangimentos na hora em que a nota é recusada por algum comerciante. Pela lei, quem falsifica dinheiro pode ser condenado a até 12 anos de prisão. Mas quem mantém a cédula ou moeda em circulação também pode ser preso por seis meses a dois anos. “Por isso, é importante recusar a nota falsa”, diz Barbosa. “Pode ser constrangedor, mas é melhor do que carregar dinheiro falsificado.” O BC corre atrás do prejuízo: a moeda de R$ 1 feita com dois materiais diferentes, lançada em 98, por exemplo, tinha como objetivo dificultar a falsificação. E uma nova nota de R$ 50 já está sendo estudada (veja texto abaixo). Mas os falsificadores têm acompanhado as mudanças. “O acesso à tecnologia joga a favor deles”, diz Barbosa. Notas são escaneadas e impressas em papel Quando o Real foi lançado – e a estabilização viabilizou a falsificação – os criminosos lavavam as notas de R$ 1 e de R$ 5 e as transformavam em notas de R$ 10. O BC lançou cédulas em papel mais fino, que não tinha como ser lavado e fez marcas d’água diferentes para as notas de cada valor. Os falsificadores mudaram de tática. “Agora capturam a imagem da nota e imprimem em papel comum.” Para o delegado Manoel Camassa, não são falsificações sofisticadas – mas passam porque ninguém se preocupa em observá-las. Segundo ele, o dinheiro falso costuma ser fabricado por grupos pequenos de falsificadores. “Tem aquele que sabe mexer com computadores e faz sozinho”, diz. “Mas já pegamos famílias inteiras que lavavam as notas no tanque”, diz. Com as moedas é diferente. Fabricá-las exige equipamentos mais sofisticados, como prensas e máquinas de corte. No começo do mês, uma dessas “fábricas”, que fazia 40 mil moedas por dia, foi descoberta na Capela do Socorro, zona sul. “Estão mais concentradas onde há metalúrgicas. E a produção é sazonal. Quando a polícia atua, param por um tempo”, diz Barbosa. Segundo Camassa, tanto as notas como as moedas costumam ser vendidas por um preço que vai de 25% a 30% do valor do dinheiro falso. “Quem compra coloca em circulação aos poucos, fazendo pequenas compras para receber o troco.” (Fonte: Jornal da Tarde – SP)