São Paulo (AE) – A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) avalia que a Argentina ?mais uma vez passa a perna no Brasil? ao equiparar os impostos de exportação da farinha de trigo e pré-mistura em 10%, ao mesmo tempo em que mantém os 20% para o trigo em grão vendido ao exterior. Até então, a farinha exportada recolhia 20% e a pré-mistura, 5%. Na avaliação do presidente da Abitrigo, Francisco Samuel Hosken, a medida é uma resposta à fiscalização adotada no Brasil contra a pré-mistura argentina e deve pôr fim à fraude nas exportações de farinha de trigo como pré-mistura, mas prejudica o Brasil, que precisa importar mais de 70% da matéria-prima usada para a fabricação da farinha e praticamente todo o volume é fornecido pela Argentina.
?Mais uma vez a Argentina passa a perna no Brasil. Ao manter os 20% para o trigo em grão, favorece sua indústria, que além de pagar menos pelo trigo argentino ainda poderá exportar farinha a um preço inferior?, diz o executivo. Segundo ele, o trigo para exportação está cotado a US$ 190 a tonelada, enquanto no mercado interno os moinhos argentinos pagam US$ 165 a t do produto.
Desde o dia 2 de agosto, a Receita Federal, a pedido da indústria brasileira, vem fiscalizando nos postos de fronteira a entrada de pré-mistura argentina. A acusação era de que como a pré-mistura pagava imposto menor, os exportadores argentinos estavam enviando ao Brasil farinha, misturada apenas com sal, como pré-mistura. A prática se prolongava há mais de dois anos, com crescimento exponencial das importações de pré-mistura argentina e queda na mesma proporção das compras de farinha do país.
Com a fiscalização, os números mudaram substancialmente, segundo Hosken. ?De janeiro a 20 de agosto a importação de pré-mistura somava 270 mil toneladas, contra 20 mil t de farinha de trigo. Desde que a fiscalização foi iniciada, a importação de farinha de trigo cresceu 50%. A análise constatou fraude em 100% das cargas?, disse.
Segundo ele, com a equiparação do imposto para mistura e farinha a Argentina mantém um subsídio para sua indústria que prejudica a brasileira. ?Vamos levar ao governo esta situação para que avalie medidas compensatórias ou ação antidumping?, informou.
A Abitrigo estima que, com a queda na safra brasileira, a indústria nacional terá de importar no atual ano-safra 7,9 milhões de toneladas de trigo em grão para completar o volume necessário para moagem.
