“O Brasil e o empresariado brasileiro estão se dando conta de que a Argentina está perdendo importância como parceiro comercial”, afirmou ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência EStado, o coordenador da Área Internacional da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Domingos Mosca, ao comentar as dificuldades dos exportadores brasileiros de vender seus produtos para o país vizinho. Com a grave crise cambial na Argentina, Buenos Aires passou a pôr entraves para as importações e o Banco Central argentino tem atrasado sistematicamente as remessas de dólares para pagamento dos exportadores de outros países.

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Conforme mostrou o Broadcast ontem, a Argentina suspendeu novamente o fluxo de pagamentos aos exportadores brasileiros e abriu um novo foco de tensão com o Brasil. Os atrasos levaram os empresários do setor automotivo, os mais prejudicados, a pressionar o governo a encontrar uma solução o mais rápido possível.

Mosca afirma que a Abit não teve reclamações novas nas últimas semanas, mas conta que a situação do comércio com o país vizinho é ruim desde que a Argentina começou a enfrentar problemas com as reservas internacionais. “A Argentina está perdendo relevância como cliente das exportações brasileiras”, disse. Segundo ele, as vendas do setor têxtil e de confecções para o país vizinho tiveram queda. Passaram de 134 toneladas de janeiro a agosto de 2013 para 127 toneladas no mesmo período de 2014. Ainda assim, a Argentina continua sendo o principal mercado para os produtos têxteis e de confecção. Os Estados Unidos são o segundo destino e, embora tenham aumentado as compras do Brasil, ainda têm um volume muito menor. O Brasil exportou 85,4 toneladas nos oito primeiros meses deste ano, ante 63 toneladas de janeiro a agosto de 2013.

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O coordenador contou que há um esforço das empresas para diversificar mercado, sobretudo para outros países da América do Sul com os quais o Brasil tem acordo de preferência tarifária, como Chile, Peru e Colômbia. Também há um movimento de tentativa de abertura de novos mercados na África.

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Um relatório da Abeceb, uma das maiores empresas de consultoria na Argentina, divulgado na semana passada, mostra que o Brasil perdeu participação nas importações argentinas em todas as categorias, com exceção de veículos de passageiros. O Brasil reduziu a fatia de mercado para a China em bens de consumo e de capital.

O presidente executivo da Abicalçados, Heitor Klein, disse que o Brasil perdeu espaço para os calçados chineses. Segundo ele, o País tem menos de 40% de participação no mercado de importados da Argentina, enquanto a China garante 60% das compras argentinas. Klein disse que há um temor de que a Argentina passe a fazer uma triangulação, passando a exportar os calçados chineses para o Brasil.

De janeiro a agosto deste ano, as receitas das exportações de calçados para a Argentina chegaram a US$ 56,8 milhões, 35% menos do que no mesmo período de 2013. O resultado já é sentido pelo setor e tem levado a demissões. Segundo a associação, um levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego mostra que a indústria calçadista perdeu 10 mil postos de trabalho nos sete primeiros meses de 2014 no comparativo com igual período de 2013. No entanto, a Argentina ainda é o segundo principal destino dos embarques, atrás apenas dos Estados Unidos.