A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) divulgou hoje um programa que visa colocar o Brasil entre as maiores fabricantes de produtos químicos do mundo. O projeto, chamado de Pacto Nacional da Indústria Química, estima que o setor precisará investir US$ 132 bilhões até 2020 para, ao final da próxima década, eliminar o déficit comercial que em 2009 deve alcançar US$ 18 bilhões. O projeto prevê, ainda, que a indústria química poderá criar até 2,3 milhões de vagas com os novos aportes.
De acordo com o presidente do conselho diretor da Abiquim, Bernardo Gradin, a maior parte do investimento, equivalente a US$ 87 bilhões, será necessária apenas para acompanhar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A estimativa considera um crescimento médio do PIB na casa de 4% ao ano. Os US$ 45 bilhões restantes serão necessários para viabilizar o aumento da produção de forma a eliminar o déficit do setor, impulsionado principalmente pela importação de intermediários para fertilizantes.
Para viabilizar esses investimentos, no entanto, a indústria química propõe diversos aperfeiçoamentos a serem feitos pelo governo brasileiro de forma a promover uma mudança expressiva no patamar de competitividade do setor. O Pacto Nacional, explicou Gradin, tem como propostas a alteração da estrutura tributária do setor, a maior competitividade da matéria-prima fornecida no Brasil, a melhoria das condições de infraestrutura e logística do País, o incentivo à inovação e tecnologia e a oferta de crédito suficiente para tornar o Brasil a quinta maior potência na indústria química mundial – o Brasil hoje ocupa a nona posição do mundo.
Essas medidas, na visão do executivo, que também preside a petroquímica Braskem, são fundamentais para que toda a cadeia química tenha as condições necessárias para acompanhar o crescimento da economia brasileira. “Precisamos decidir se vamos continuar onde estamos ou se nos uniremos para viabilizar a expansão do setor”, afirmou, referindo-se à iniciativa privada, às diversas esferas do governo e à Petrobras, que é a principal fornecedora de matéria-prima para o setor.
Gradin, que apresentou o projeto nesta sexta-feira, durante o 14º Encontro Anual da Indústria Química promovido pela Abiquim, prevê que um grupo de trabalho, composto por membros das diversas áreas envolvidas nos temas, começará a se reunir a partir do início de 2010 para iniciar as discussões em torno do projeto apresentado pela entidade. “Notamos o governo bastante favorável à criação de um grupo de trabalho”, reforçou.
Um dos temas que devem ditar o trabalho dessa equipe será o fornecimento de gás natural a preços competitivos para a indústria. De acordo com o presidente-executivo da Abiquim, Nelson Pereira dos Reis, o tema já está em discussão e pode ter uma definição em breve. “A lei do gás prevê que o gás utilizado como matéria-prima tenha um preço diferenciado, por isso queremos construir um modelo que aborde o preço e a capacidade de fornecimento para o setor”, ressaltou.
BNDES
O plano de investimento apresentado pela Abiquim recebeu o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De acordo com o presidente Luciano Coutinho, que também compareceu ao evento promovido pela entidade, o BNDES tem condições de “apoiar firmemente” os projetos do setor. “Nosso grande desafio para os próximos dez anos é encerrar o déficit comercial do setor”, reforçou. “Não é possível que com o pré-sal não sejamos capazes de agregar valor à cadeia, ao invés de ver o déficit crescer ainda mais”, completou.
Coutinho ressaltou que os investimentos do setor previstos para os próximos quatro anos somam aproximadamente R$ 40 bilhões, volume superior ao projetado pela Abiquim, que é de US$ 16,3 bilhões. O BNDES, no entanto, deverá concluir até o final deste mês o panorama de projetos de investimentos do setor, o que pode alterar esses valores. “Já estamos vendo retomada dos planos de investimento do setor”, revelou.