economia

Abimaq quer diálogo antes de Camex referendar redução de tarifa de importação

A retomada do processo de abertura comercial pelo governo do presidente Michel Temer provocou apreensão no setor máquinas e equipamentos, que afirma não ter sido consultado sobre a redução gradual das alíquotas sobre importação de bens de capital, informática e telecomunicações. A Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) diz esperar que o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, dialogue com o setor antes de referendar qualquer decisão.

“Acredito que não será referendado sem negociação com nosso setor. Pelo menos é isso que foi prometido. Não acredito que eles vão fazer isso sem falar conosco”, afirma o presidente da Abimaq, José Velloso. Segundo ele, a entidade já tem uma reunião agendada para a segunda semana de janeiro com Guedes e pretende abordar o assunto. A associação quer propor medidas para elevar a competitividade da indústria brasileira e abrir caminho para a abertura sem causar prejuízo ao setor.

O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, antecipou ao Broadcast que os oito ministros que compõem a Camex, órgão responsável por formular a política comercial externa, decidiram de forma unânime que a alíquota média de importação sobre esses bens vai cair de 14% para 4% num período de quatro anos. Para entrar em vigor, a medida terá que ser referendada na próxima reunião da Camex, já sob o comando de Guedes, que é defensor da agenda de abertura.

A equipe de Guedes considera que a direção de rumo para a abertura da economia é inequívoca e ocorrerá de maneira gradual e coordenada. Essa estratégia será muito mais ampla do que apenas uma redução tarifária e envolve um “estoque de medidas” para a melhoria dos mecanismos de defesa comercial, simplificação tributária, convergência regulatória, desburocratização dos procedimentos e desoneração do custo de produção, além de fortalecimento das ferramentas de inteligência comercial. A intenção do novo governo, segundo apurou o Broadcast, é promover abertura para todas as áreas de grande efeitos multiplicador, além de informática, telecomunicações e bens de capital.

Velloso criticou o “timing” da discussão da Camex, feita no fim do governo Temer, e reclamou da falta de transparência, uma vez que o item teria sido incluído na pauta durante a própria reunião. “Tudo foi feito na calada da noite, no apagar das luzes”, protestou. Ele alega que a decisão vai “decretar o fim” do setor de máquinas e equipamentos no Brasil e pede medidas de ganho de competitividade para a área.

“Tem que ter uma agenda para combater nossas assimetrias. Não pode simplesmente fazer abertura unilateral sem agenda de competitividade”, critica Velloso. Para ele, da forma como foi proposta, a redução das tarifas vai “decretar o fim do setor de máquinas e equipamentos no Brasil e acabar com 8 mil empresas, que empregam 2 milhões”.

O setor reivindica medidas para reduzir o custo do capital de giro e para investimentos, assim como a redução do custo dos insumos (hoje 30% mais caros que na Europa, segundo a Abimaq). No último caso, Velloso afirmou que o Brasil precisa adotar a chamada “escalada tarifária”, isto é, reduzir primeiro as tarifas sobre as matérias-primas, depois sobre produtos intermediários na cadeia produtiva, para só então cortar as alíquotas cobradas sobre o produto final (como é o caso de máquinas e equipamentos). Ele disse ser favorável à abertura, desde que de maneira gradual e sem prejuízos à indústria nacional.

Surpresa

O presidente da Abimaq diz que o setor foi surpreendido pela medida e que houve uma insistência do Ministério da Fazenda para pautar o tema na última reunião da Camex. Ele afirma que conversou com Temer sobre o assunto e que o presidente “entendeu o que estava acontecendo, que era um desejo do Ministério da Fazenda, mas que não era um desejo do governo Temer”.

Velloso relata ainda que a Casa Civil teria ficado contrariada com a insistência de Guardia em retomar a discussão, que já havia sido retirada de pauta em maio. Mas segundo apurou o Broadcast, a Casa Civil não se opõe à medida e inclusive proclamou o resultado unânime da decisão do plenário sobre o tema.

A decisão de reduzir as alíquotas está suspensa até a posterior regulação pelo grupo técnico da Camex, que deverá ser apreciada em nova reunião do colegiado de ministros.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo