Dirigentes de duas importantes entidades do setor empresarial brasileiro, a Abimaq (máquinas) e a Abinee (eletroeletrônicos), dizem estar céticos em relação aos rumos da política econômica e terem perdido a confiança no governo, o que se traduz em adiamento de investimentos. Fabricantes de veículos discordam dessa avaliação.
No domingo, 9, o jornal O Estado de S. Paulo publicou entrevista com o presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Passos, em que ele atribui os resultados ruins da indústria de 2013 ao que chamou de “ambiente econômico prejudicado”. Disse ainda que “o clima de confiança do empresariado não existe, acabou”.
Na edição de segunda-feira, 10, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, rebateu as críticas, afirmando que “são um instrumento de campanha eleitoral antecipada”.
Na opinião do presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, “há uma falta de segurança sobre o que vai ser a economia brasileira nos próximos meses, mais especificamente em relação às regras para o setor elétrico. A apreensão é grande”.
Ele aponta a “contabilidade criativa” do governo nas finanças públicas como um dos geradores de insegurança. Além disso, aos olhos dos investidores internacionais, o Brasil já não é visto de forma positiva como até pouco tempo. Somada à falta de confiança, Barbato não vê ações do governo para baratear a produção da indústria. “A desoneração da folha de pagamento foi a única grande notícia positiva para a indústria.”
Ele ressalta que as reformas trabalhista e tributária são pontos cruciais para a indústria. No entanto, não vê perspectivas de que sejam feitas no curto prazo.
Carlos Pastoriza, diretor secretário da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), reconhece avanços na inserção social, mas diz que o modelo econômico “nos rouba competitividade sistêmica como país”.
Segundo ele, a indústria de transformação, “que é o motor do desenvolvimento”, caminha para ser apenas montadora ou importadora porque a produção local não é competitiva. “Estamos céticos em relação ao desejo da classe política de fazer reformas para mudar esse quadro”, diz Patoriza. “Teria de começar com a reforma mãe, que é a reforma política.” O executivo ressalta que o problema é antigo e vem de muito antes do atual governo.
Maior demanda
Já o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, diz que “de forma alguma perdemos a confiança no governo”. Segundo ele, graças a medidas rápidas e eficazes que ajudaram o País a criar maior demanda no mercado, o setor escapou de impactos da crise internacional nos últimos dois anos.
“Tivemos crises fortes nos Estados Unidos e na Europa e recuo de crescimento da China, os três principais compradores de produtos brasileiros”, diz Moan. “O governo brasileiro minimizou possíveis consequências ao setor automotivo e à economia como um todo.”
O executivo se refere, em parte, ao corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros, anunciado em maio de 2012 e que está em vigor até hoje. O retorno da alíquota integral do tributo vai ocorrer gradualmente, até julho. “Apesar da queda, não houve perda de arrecadação. Ao contrário, ela cresceu como um todo”, afirma Moan.
Sobre a alta de 30 pontos porcentuais do IPI para carros importados – criticada por Passos -, Moan ressalta que, sem proteção, muitas poderiam optar pela importação. “Os 30 pontos são um benefício diretamente para as montadoras, mas em especial para a cadeia produtiva, pois quanto mais se importa mais se enfraquece a cadeia produtiva.” O setor planeja investir R$ 74 bilhões até 2017. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.